quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
A Polícia de Segurança pública de Braga acaba de fazer jus ao seu nome: Segurança Pública. E foi em nome dessa dita Segurança, a que se diz Pública, que tomou medidas: entrou por uma feira de livros e apreendeu todos os exemplares duma obra. Motivo: a capa exibia uma mulher parcialmente nua. E digo parcialmente porque a imagem do quadro de Gustave Coubert que aqui reproduzo é a prova provada de que a dita senhora não estaria completamente desnudada. Vai daí os agentes consideraram estar perante uma despudorada apresentação de pornografia e não estiveram com meias medidas: apreenderam os livros.
Apesar de tudo uma feira do livro é um espaço de cultura. E o meu receio está em que os zelosos agentes (e mais do que os agentes, as suas chefias) tenham tomado o gosto pela frequência deste tipo de locais e comecem a visitá-los. E se eles decidem começar a ir a museus?! Ou, numa versão mais popularucha, o que irá acontecer às Caldas da Rainha?
Brinco com o que não é de brincar, eu sei. Brincar é desanuviar. E não acho que se deva desanuviar. Já ouvi muitos saudosistas defenderem que a censura no antigo regime não era nada daquilo que se pinta. Segundo estes, por vezes os censores eram “um bocadinho ignorantes” e extravasavam as suas competências. Excesso de zelo, dizem. Nada mais do que isso, dizem ainda. Compreensível ignorância num país com carências culturais, dizem também.
Já ouvi estes argumentos vezes suficientes para não me contentar com a ideia de que a atitude da Polícia dita de Segurança Pública foi um acto isolado e irresponsável. Para mais seguiu-se a um outro “acto isolado” duma procuradora do Ministério público de Torres Vedras. A tal que proibiu e depois “desproibiu” a participação do computador Magalhães num desfile de carnaval.
Uma procuradora do Ministério Público? Compreensível ignorância num país com carências culturais?
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