segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

ENTRETANTO,

palavra total
tudo a tudo resume.
Comemos,
e entretanto,
Escrevemos,
e entretanto.
Sonhamos
e entretanto.
Entretanto outros escrevem,
quando comemos
Outros comem,
quando sonhamos
Outros sonham  seus sonhos,
quando sonhamos os que são nossos.
 
Da experiência que experimentamos
sai-nos o comer, a escrita e o sonho.
De nada mais.
Nada alcançamos,
porque tudo o que sabemos
sabemos em nós.
Esse saber de entretanto,
apenas connosco convive,
não com aquilo e menos com Aquele que É.
 
Somos ilhéus
e a mais não chegamos,
apenas concluir esse mar como ponto final.


Luís Novais















Foto: AJS1

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

ETERNO

 


















Olho
e numa ilusão
tudo aparece.
Não acontece
o que não acontecendo
parece acontecer.

Olho, olho à volta.
Tudo vejo
e nada é.
(Aparência)
Busco,
pelo ver e pelo sentir, busco.
que nem vejo nem sinto.
Exceto nos olhos,
exceto no tato.
Não os tivesse,
não buscaria.
Se nada É
além da pele,
então nada existe,
menos o nada, Nada!
Nem o que sinto,
nem o que pressinto.
O nada não é,
nada é nada,
tudo é nada.
Não existo,
fora do que vejo e no que vejo.
E o que vejo
inexiste, menos eu:
Não é.
E se não é, não sou.

(perdido, procuro perdido)

Do nada que sou
algo fica, de humano ou químico,
que químico ou humano
mudará os que serão.
Sejam gente, seja matéria.
Sejam gente que será matéria,
sejam matéria que será gente.
Não existir é existir.
(eternamente).

É eterno o dono da tabacaria,
eterna a tabuleta,
eternos os versos,
eterna a rua,
eterna a língua,
o planeta,
os satélites,
até a metafísica
daquele que a não tem.

Mesmo quando não sejam,
são eternos.
Mesmo não havendo quem os veja,
eternos.
Eternos até quando ninguém esteja,
nem neste, nem noutros sistemas.

A pele ou foi antes ou foi depois do Ser,
Mas o Ser é antes do não ser.
Então É,
mesmo o nada É nada.

Então, sou.
Então, serei.


Luís Novais

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

“VERDADE”

O que é a verdade
se não o invisível do visível?
Aquilo que não vemos nem sentimos,
atrás do que se sente e vê?
Quando se veja,
então já não É.
Se da terra vemos céu,
estrelas, galáxias;
ver não é saber, e menos Ser.
 
Quando alcançamos
(e se alcançamos),
o firmamento é sempre mais.
E então nunca chegamos.
A verdade sempre oculta,
sempre falsa quando se mostra.
E a ciência que procura
sem nunca lá chegar,
nem é luz,
nem é noite:
É o Nada e não nada.
 
Verdade não há outra,
além da não revelada.
Que nos interroga,
sem responder.
Onde se oculta?
Não há engenho ou saber,
não há branco nem negro,
menos cinzento.
Verdade é uma só,
 
mas apenas lhe chamam arte.
 
 
Luís Novais