sábado, 12 de dezembro de 2020

POEMA VAZIO

Este é um poema vazio,

tem letras por ilusão.

Um poema do nada,

tanto que nem poema será.

Não dá,

como não tira.

Não acrescenta,

não diminui.

Não faz saber,

e menos ignorar.

Um poema vazio,

que não é poema,

numa página cheia de nada.

Será inteiro o que não vemos?

O Ser que somos.

Vazio aquilo que vemos?

Este é um poema que não se vê,

numa página que vemos cheia.


Luís Novais

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

TODO NADA

Queria saber

que todo é

o nada que existe em mim.

Se de mim soubesse

quem e ao quê,

todo mistério cairia.

O mundo

cabe em cada partícula

e de cada partícula universo.

No que vemos

está o não visto:

Víssemos!

e a porção seria íntegra.

Que todo tanto será esse nada

que quando me vejo, vejo?


Luís Novais

terça-feira, 6 de outubro de 2020

FOMOS ROMEIROS

 

Tão  ténue
viver
Hoje
como sorte
d’azar d’Ontem.
Azar é ser:
Destino
total e descontrolado.
Azar é ser
sorte da nada.
O destino d’ontem,
no passado d’hoje,
no ontem d’agora!
Somos nada, nada
crendo ser.
E somos tudo, tudo
o que cremos ter querido.
Nem querido, nem crido:
apenas azar d’ontem
em sorte d’hoje.
Nada somos, nada,
no chão que pisamos;
indo além, muito além
em sonho que sonhamos.
Nos ontens que choramos
amanhãs que cantaram.
Não há futuro futurado.
"Ecce homo":
Tudo acontece!


Fomos Romeiros!
…alem de Ninguém.

 
LN

quinta-feira, 16 de julho de 2020

SER PORTUGUÊS


Nasci no lugar
onde a terra acabava.
E então naveguei,
Sem saber,
naveguei.
Do fim com peso
ao princípio flutuante.
Fui barco.
Fui povo.
Fui mar.
Ondulante.
Na crista ascendente, sorria presentes.
No abismo, sorria futuros.
Sem pés na terra,
nem mais terra que não maresia,
deixei de ser
do lugar onde nasci.
E então olhei:
Olhei a meus pés
e um céu de baixo.
Olhei ao infinito
e um mar de cima.
Mar nas estrelas
Estrelas no mar
Estrelas do mar.
Cheguei ao céu, navegando.
E de povo, fiz-me sonho

Luís Novais

terça-feira, 26 de maio de 2020

A PENAS

Quem sou?
Sou o que não sois
sois o que não sou.
O que desde mim vejo
quando vos vejo
faz do vós, vós em mim.
Como? Se mim em mim
tudo que em mim esteja.
Como?
Ninguém existe fora de si,
somos tantos quantos tantos.
Exceto que nos vemos,
ess'outro:
um nós de nós visto.
Tanto sou eu
como vós também.
Se ao mim em ti
e ao ti em mim
não tomamos,
tão-pouco nos sentimos
e então nada.
Nada! nada fica.
Sou!
Apenas porque sois.


domingo, 26 de janeiro de 2020

SALKANTAY AO INSOLENTE ÍCARO PÉS DE MONTANHA




Quem és?
Humano insolente
erguendo-se em tempo
ante mim de tempo erguido.

Sou massa
feita de ti.
Carne da rocha
e d’água que guardas.
Sonho montado
n’alma que te dei.
Tu és pedra,
eu sou tu.
Sendo!
Ao que és dei sonho:
Corpo de tua matéria
e alma de meu corpo
tuas alturas sonhando.
Do fogo te fizeste
do confronto t’ergueste,
de ti me fiz
e deste voo tua alma.
Fizeste-te:
Fazendo-me.


Luís Novais