Hoje sonhei que mataste um pássaro. Uma pomba. Uma pomba verde daquelas que Malan mata quando com ele saio ao mato: à caça; na Guiné.
Não sei por que construi as frases que acabo de construir da forma como estão construídas. Sei; claro. Foi para te fazer sentir que tu matas. E que eu não. Que mesmo quando saio ao mato é para ver matar e não para que mate. E assim também o meu tiro fica dado.
Não te vi. Ouvi o teu disparo: certeiro. E vi-a cair da árvore; à pomba. Quando a mataste estava pousada: entre o ramo duma árvore e um cabo da companhia de telefones. Talvez eu não tenha a certeza se caiu do ramo se do cabo. É simbólico: a pomba que mataste estava entre a árvore e o telefone. Entre o “ser para si” e o “ser para o outro”; para ti.
Fui eu quem a foi buscar. Caída no chão: entre arbustos rasteiros e caruma de pinheiro. Ferida de morte. Pensei que talvez a devesse matar. Apertar-lhe o pescoço. Terminar com a sua agonia. É o que costumo fazer às pombas que Malan mata…
…e agora, muito agora: agora descubro que afinal sou eu quem as mata. Malan fere-as de morte. mas quem as mata sou eu.
Não me lembro se matei ou não matei a que feriste de morte.
De qualquer forma o tiro estava dado.
E se eu fosse apresentado ao tribunal das pombas? Se fosse posto perante um juiz pomba como se fora um outro qualquer juiz qualquer: com o traje negro dos juízes e com a majestosa cadeira. Ele sempre em cima. Eu sempre em baixo. Ele sempre a mirar-me do seu alto posto. Eu sempre a mirá-lo do meu chão; do meu nada. Quem seria culpado do crime? Malan que feriu ou eu que matei?
Não interessa. De qualquer forma: neste sonho eu não me lembro se matei ou se não matei a pomba que tu feriste de morte. É até provável que não o tenha feito.
Um sonho. Só um sonho. Que significado terão os sonhos? Terão algum?
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
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