sábado, 3 de agosto de 2013

Sôbelo

Sôbelo rio que corre
por  ocidente m’achei ,
onde correndo chorei.
Raízes duas,
frutos três.
De glórias passadas,
desterros presentes.
De riso, choro;
sôbelo rio,
alegria que foi
lágrima qu'é.
Presença d’antes,
saudade d’agora:
Sôbelo rio
qu’ocidente
mais além
o sal me leva.
Fel salgado nascido,
em doce chegado.
Assim se viv’em sombra
qu’Homem julga verdade.
Dia porqu’escrito,
noite porqu'irreal.
E sôbelo rio vi correr
tanta verdade sem ser,
tanto dor verdadeira.
Oscilante desce
inglório rio vão,
tal justiça buscando.
Desequilíbrio constante
d’equilíbrio ilusório:
justo se fingindo,
querendo luz
sendo sombra.
E eu sem ser,
sôbelo rio que corre,
em sal chegarei.
Sente-me Sião!
Desprometida terra:
raízes, duas;
frutos, três.
Luz, é luz;
Sombra também:
desterro.

Luís Novais