segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Crise financeira: a segunda rodada cabe aos mesmos

Com triste ironia, a vitória do Syriza veio até criar condições para que se coloque em marcha um programa que já tem condições políticas para avançar, desde que ao turbilhão foram salvos os especuladores

Menos de 24 horas passadas sobre a vitória do Syriza, já reagem vozes muito fundamentalistas do liberal-desregulamentadorismo, que gritam fathas contra um putativo “calote” grego.

Esquecem-se que qualquer dívida tem dois responsáveis. E lá que andaram por aí especuladores muito aventureiros, andaram... Ou alguém acredita que é de apanha recente tudo o que se diz sobre a ocultação das contas gregas? Era tema mais do que comentado nos corredores de Bruxelas, por muito que agora neguem, tanto políticos como burocratas.

Não é preciso ser sábio, para concluir que dívidas superiores a 100% do PIB não são recuperáveis em menos de 100 anos. Isto sem esquecer juros, que os da portuguesa já rondarão pelo custo do Ministério da Saúde.

Se é para trazer o tema para o domínio da moral, trata-se de saber quem deveria ser poupado: se o povo que votava sem saber ou ganhar, se os que sabendo e ganhando pediam e emprestavam.

Com triste ironia, a vitória do Syriza veio até aplainar o terreno para que se coloque em marcha um programa que já tem condições políticas para avançar, desde que ao turbilhão foram salvos os especuladores, os verdadeios G-DDT, os Grandes Donos Disto Tudo: Movendo a batuta da Sra. Merkel, aliviaram as suas responsabilidades albardando-as nos contribuintes europeus.

O “meia volta e marche” já está anunciado pelo Sr. Draghi: rotativa a trabalhar, imprimir euros e em força. Claro que vem aí desvalorização e desta vez, com renitente aparência, a chanceler vai ser silenciosa apoiante de primeira fila, seus antigos abrenúncios calando.

É estratégia que já Estados Unidos e Inglaterra tinham tomado, e os resultados são visíveis. Agora vamos nós, com bons oito anos de atraso e dando alegrias acrescidas aos tais G-DDT: Dólar a valorizar e esses ricos euros fresquinhos com que os brindamos já notas verdes são.

Falta dizer que uma moeda em queda significa que alguém vai pagar. Quem? Os mesmos que pagaram a primeira rodada, e que agora vão à segunda.



Luís Novais