Vai um grande debate sobre a
profissão do jornalista. Um pouco por todo o lado as edições em papel perdem
leitores, as redações diminuem de tamanho e os despedimentos coletivos são uma
constante, seja na Europa, seja nos Estados Unidos; seja no “El País”, seja no “Público”
que duma assentada vai despedir 50 jornalistas.
Podemos analisar esta questão do
ponto de vista da barbárie capitalista, que é um facto. Mas também do ponto de
vista da análise das causas e da perspetivação das alternativas que se colocam.
A sociedade está hiper-informada.
Quantos de nós não usamos o Facebook para sabermos pela nossa rede o que se está a
passar? Quantos não vamos depois ao Google para aprofundarmos aquilo que nos
interessa?
Nesta sociedade já não vale a
pena pensar no jornal como meio de veicular a notícia em toda a sua etimologia.
O jornalismo noticioso tenderá a perder cada vez mais público e, por via
disso, estará cada vez mais entregue a jovens estagiários de custo reduzido e
grande rotatividade.
Todavia, se a sociedade beneficia
duma hiper-informação, padece também desse mesmo mal. O objeto da notícia
aprendeu rápido e aproveitou os novos meios ao seu dispor para se transformar
em criador e veículo da notícia. O atual Presidente da República justificou o
investimento que fez no site da presidência com a necessidade de ultrapassar os
critérios jornalísticos e comunicar diretamente com os portugueses. E quem
esqueceu o recente episódio em que Miguel Relvas ameaçou uma jornalista de veicular
uma determinada informação pessoal através da… internet?
Acontece que o objeto da notícia
não é isento. Ou antes, aceitando que a isenção não existe, o objeto da notícia
é parte da mesma, tem por isso um interesse muito diferentes do de informar. A
sociedade hiper-informada em que vivemos estará mais ou menos consciente disso
e a crença generalizada de que “já não sabemos em quem confiar” é uma
hipertrofia da crise da pós-modernidade: a transformação da verdade helénica na
mera palavra tantas vezes repetida quantas as necessárias para que o precedente
se transmute em transcendente, o dito em verdade.
Esse papel de ir mais além da
notícia transformada em verdade auto-construída, esse julgo ser o papel que
hoje está reservado ao jornalista. É um caminho difícil: por segurança
psicológica e preguiça mental, o ser humano tem a tendência de acreditar em
mitos; gosta que lhos criem e a eles adere de forma irracional. Para mais, os
mitos protegem-se mutuamente: o medo gerado pelo do anticristo serve para
proteger o seu contrário. Não é tarefa fácil, a do destruidor de mitos, é ser
uma espécie de anticristo, é certo. Mas é tarefa necessária e os vazios são
espaços à espera de preenchimento.
Luís Novais
Foto: Stock.Xchang
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