É em resultado desta desadequação que jamais teremos uma Europa de alma connosco, ainda que a tenhamos de corpo, corpo de intervenção, às vezes e cada vez mais.
“Só vamos sair desta situação empobrecendo” (Passos Coelho,
Outubro 2011). “É um enorme aumento de impostos” (Vitor Gaspar, Outubro 2012). “Vamos
ter que reaprender a viver mais pobres” (Isabel Jonet, Novembro 2012)… Os exemplos poderiam suceder-se: os nossos responsáveis políticos (e hoje já não é possível
desenquadrar Jonet dessa categoria) parecem ter apostado na desesperança como
terapia de choque.
Infelizmente, a desesperança, quando propagada a tão alto
nível, acaba por ser uma profecia que se auto-cumpre. Os portugueses estão
descrentes e deprimidos; quem ainda acredita em si mesmo, deixou de acreditar
no país. Portugal está hoje entalado entre aqueles que mantêm uma pequena zona
de conforto que os impede de sair, entre a crescente sangria dos seus quadros
mais empreendedores e entre a progressiva saída das suas empresas mais
competitivas. Os primeiros ficam, mas com uma desmotivação que os torna improdutivos,
os segundos vão-se e criam riqueza fora do país, quanto às empresas, as que
ainda podem tocam a fechar as suas portas em Portugal e abrem sociedades no estrangeiro,
de onde não trarão um só euro.
Esta via depressiva é a única que a Europa tem para nos dar, disso
não restam dúvidas e as poucas que restassem partiram no mesmo voo em que Frau
Merkel foi de volta, depois da breve visita que nos fez. Com isto tudo, destroem-se os consensos mínimos sem os
quais não subsiste um país e basta andar pelas redes sociais para tirar tal
conclusão.
Portugal parece um Titanic com a sua
orquestra, mas com a originalidade de esta ter optado por tocar música fúnebre,
como que dizendo aos passageiros que é melhor desistirem de qualquer esforço
porque não têm a mínima chance de sobrevivência.
Estamos a precisar de uma via que nos volte a dar esperança.
Um povo desesperado não é capaz de se colocar de acordo nos mínimos, é um povo para o qual “tudo é disperso, nada é inteiro”.
Se a única coisa que a Europa nos pode dar é o discurso de
que temos de empobrecer, se a única liderança que a Europa consegue criar se
chama Merkel, então é o momento de encarar a situação de frente e, duma vez
por todas, sairmos a grande velocidade desse comboio.
A União Europeia não foi criada para integrar o sul e muito
menos Portugal. Criaram-na, isso sim, porque a História da sua metade central é
uma câmara de horrores. Sempre que se fala na necessidade de manter a União,
vem à baila que ela evita a guerra. E nós com isso? Foi palco em que nunca
estivemos e em que nunca quisemos estar. É precisamente porque a Europa serve apenas
para evitar os conflitos do seu passado, que a Alemanha pôde ter os
incumprimentos que teve na década de 50, beneficiar do enorme perdão de dívida
subsequente (inclusive à custa da Grécia) e declarar unilateralmente o fim da
sua dívida em 1990. É precisamente porque a Europa não serve para integrar o
sul, que ao sul nada disto é permitido e apenas lhe resta um estrito
respeitinho orçamental. E é em resultado desta desadequação que jamais teremos uma
Europa de alma connosco, ainda que a tenhamos de corpo, corpo de intervenção,
às vezes e cada vez mais.
A nossa geoestratégia e a nossa cultura são atlântica e linguística. Precisamos
de voltar a acreditar para nos unirmos num projeto que nos devolva a esperança,
que nos termine com esta guerra interna que, de fria, está em aquecimento
óbvio.
“É a hora”?
Luís Novais
Essa via alternativa normalmente é demagógica! E disso o povo está farto, por isso vai eternizando o Bloco Central no poder que está visto não tem soluções para o país! Apenas desesperança e conformismo ...
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