sábado, 14 de abril de 2018

TRUMP, A SÍRA E AS AMÉRICAS NUM MOLHO DE BRÓCULOS


Não surpreende, trata-se da fiel representação do país que Trump tem: O melhor do mundo a destruir e matar, mas dos piores a cuidar a saúde dos seus próprios cidadãos, esta sim uma real e também química guerra civil.   

Enquanto a Síria era bombardeada por Donald Trump, decorria em Lima a VIII Cimeira das Américas. A participação do presidente norte-americano estava confirmada, tanto que, em fevereiro, mandou ao Peru o secretário de estado Rex Tillerson a reunir-se com o então presidente Pedro Pablo Kucksinsky (PPK), para transmitir ordens expressas sobre esta cimeira.

Só quem acredite em coincidências e seja completamente surdo ao que dizem as fontes peruanas ligadas a este processo, pode considerar ter sido uma coincidência que, apenas 11 dias depois, PPK convocasse os ministros dos Negócios Estrangeiros de 13 países do intitulado “Grupo de Lima” que, entre outros, inclui Argentina, o Brasil de Temer, Canadá, Chile, Paraguay Santa Lucia e… esse modelo de Democracia que se chama Honduras. Na agenda, um ponto único: Retirar a Nicolás Maduro o convite para que participe na Cimeira das Américas.

Quem acompanhou o evento sabe da polémica nos bastidores e que PPK não conseguiu o que pretendia, ficando no final com uma mera declaração de respeito pela sua decisão (ver aqui). Apesar disso, foi prémio de consolação suficiente para que retirasse o convite já antes enviado ao ditador venezuelano. Num entusiasmo trumpiano, o anúncio fez-se pelo Twiter.

A cronologia mostra descaradamente aquilo que as fontes do palácio de governo peruano afirmam: Donald Trump colocou como condição para a sua vinda que Nicolás Maduro não estivesse presente. Vejamos: Primeiro, o Peru fez o convite ao venezuelano, depois recebeu o secretário de estado Rex Tillerson para falar sobre a cimeira, em seguida convoca para Lima os ministros dos negócios estrangeiros de 13 países americanos, por fim o convite a Maduro é dado por não dado. Só depois deste processo, no dia 9 de março, o presidente norte-americano confirmaria a sua participação.

A ironia disto tudo, são as voltas que a história dá. Maduro, que foi convidado, depois desconvidado e que afirmou continuadamente que viria e viria, não veio. Pedro Pablo Kucksinsky, que convidou, depois desconvidou  e que, claro, estaria e estaria, tampouco esteve, forçado entretanto a renunciar para não ser demitido no parlamento: Consultoras suas com sede nos EUA prestavam serviços milionários à construtora Odebrecht, enquanto era primeiro-ministro e adjudicava milhares de milhões à mesma empresa brasileira. Por último, também Trump, que confirmou e confirmou, afinal falhou, empenhado que se empenhou no bombardeamento da Síria.

Ironias à parte, este caso mostra bem de que lado da história está o presidente dos EUA. A cimeira das Américas foi criada em 1994 para fomentar o diálogo entre os países do grande continente. Apesar de todas as deficiências inerentes a este tipo de reunião, trata-se dum espaço de confronto pacífico, de diálogo e de procura de consensos. Trump, essa egocêntrica Super Star, não quis partilhar o palco com Nicolás Maduro, um igualmente egocêntrico mas artista de rua. Por fim, a “grande estrela” não quis vir: Ficar e matar noutras bandas, foi um apelo irresistível frente à alternativa de vir e dialogar no seu continente.

Não surpreende, trata-se da fiel representação do país que Trump tem: O melhor do mundo a destruir e matar, mas dos piores a cuidar a saúde aos seus próprios cidadãos, esta sim uma real e também química guerra civil.   

Um aparte final para dizer que, quanto às causas diretas do bombardeamento, não me convencem. Enganaram-me uma vez, e bem enganado, no filme Iraque-2003, quando acreditei e apoiei. Depois disso, jurei a mim mesmo que só com muita prova… E refiro-me apenas às causas diretas, porque aos verdadeiros motivos já os dou de barato: Ali não há nada de humanitário, basta ver a geopolítica e os ouvidos de mercador aos crimes cometidos pelo vizinho do lado.



Luís Novais

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