Gerir com olhos postos nos indicadores pode ser perigosa condução. Que o
digam os portugueses: para contas públicas sem mácula de dívida, a política
inventou esse casamento entre público e privado, que nem bom vento teve. Mas lá
estava o abençoado indicador: não era dívida senhores, quase rosas, tudo afinal
em pago da utilização, justa compensação pelo servicinho.
O resultado é melhor nem relembrar, que ainda esta gente anda em pagamento de
prestações nada suaves. E é que, contas feitas, já nem para divórcio de tamanho
matrimonstro lhes sobra tostão.
É o Estado, senhores. O que fazer? Esta coisa de pôr humana gente a gerir públicos
dinheiros, nasce torto, nunca de endireita. “Ninguém respeita o que não seu”:
axioma que de tão bem trovato, já nem
se discute se é vero.
Anuncia-se o circo
Vai daqui que a arte de bem cavalgar qualquer crise foi de segredo único: entregar
e em força. “Até damos. Entrem senhoras e senhores, meninos e meninas. Até
damos. É entrar, é entrar”. E abriu o circo original: o palhaço era plateia.
Primeiro número: “O fantástico investidor”
Esses sim, que são grandes a gerir. “Ó menino, umas cabeças, um talento que
só visto”. E um qualquer tio de tanta barbela quanta manha, urubu mais
velho do que novo, acenando que sim, enquanto no bolso vão tilintantes as
chaves do escritório de advogados, que esse também é privado e há que viver, há
que viver: “Isto do Estado é só sonhos e ilusões, não resta dúvida”, e para mais conversa não lhe sobra verbo que o peso vem de outras manhas e ainda há muita sinecura em distribuição. Falem outros e ponham-se na fila.
Contas certas, pois claro. “Estes senhores até já prometeram que enfiavam
uns valentes milhões pela goela da empresa quase falida”. O coro número um: “Não
nos resta outra, não nos resta outra”. O coro número dois: “Graças a Deus,
graças a Deus”. Um pastor fora do coro: “Aleluia, aleluia!”
Segundo número: “A raposa ilusionista”
Alto e para o baile, que estes são mais zorras que os anteriores (zorra: espécie
também conhecida por pilha galinhas). Pois não é que o milhão que entra d'uma mão sai pela outra? Vender para depois alugar… não era essa a tal manha desorçamentadora de que nos queríamos livrar? Afinal compram o galinheiro em mágica ilusão: tirando
e pondo as mesmas galinhas... menos uma ou duas na reposição que o mago também tem família, pois então. “Bravo, bravo. Raposa mais que Hodini!”
“Tirar e pôr o que tira. Génios da gestão!” (na plateia um palhaço não
identificado)
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