Neste momento, António Costa está na camisa-de-forças em que ele mesmo se meteu. Coliga-se com a direita, e perde eleitores à sua esquerda. Coliga-se com a esquerda depois dum acordo que assuste os mercados, e escapam-lhe para a direita.
Há momentos na política que exigem uma velocidade capaz de surpreender o adversário. Nessas alturas, a mínima lentidão permite escavar trincheiras, e não é preciso recuar 100 anos para saber como estas posições imobilizam qualquer contenda.
Há momentos na política que exigem uma velocidade capaz de surpreender o adversário. Nessas alturas, a mínima lentidão permite escavar trincheiras, e não é preciso recuar 100 anos para saber como estas posições imobilizam qualquer contenda.
António Costa deveria sabê-lo.
Depois de fazer cair Seguro com a célebre frase da vitória por “poucochinho”,
exigia-se-lhe o primeiro lugar com um resultado expressivo. Em vez disso, perde
por muitos e foge para a frente tentando ser primeiro-ministro, apesar do
resultado que, contra toda a previsibilidade política, sofreu.
Tendo capacidade de encaixe e
jogo de cintura, poderia salvar-se com uma coligação à esquerda que, não sendo contra-natura
ou ilegítima como se diz, contraria a tradição. Mas enfim, esta existe para
ser rompida, haja força e argumentos para consegui-lo. Derrotado nas urnas,
disposto a fazer uma aliança extraordinária, o mínimo era conseguir
ser rápido, correr, galgar a onda e os adversários, antes que se
abatesse, aquela, e se entrincheirassem, estes.
Não conseguiu. O PCP usou o
lastro da sua experiência e disse-lhe nim: que avançasse na prancha rumo ao mar
de tubarões, e que nem era preciso qualquer acordo. Quanto ao Bloco, ainda não
absorveu a sua nova dimensão e, sobretudo, não tem a previsibilidade de anos e anos de
jogos e de cumplicidades internas, com as inerentes interdependências. Por
outras palavras, é um partido em que todos são muito livres e isso dificulta o
estabelecimento de compromissos internos, tanto que Catarina teve de vir a
terreiro dizer que quem fala pelo partido é ela.
Entretanto passaram 15 longos dias.
Dentro do PS, barões e duques já deram o abraço de anaconda, bem explicito nas
declarações de Jorge Coelho: “Tem de ser um acordo sólido e
transparente. Tudo escrito e assinado”… ou
seja, aquilo que bloquistas e comunistas não podem dar, sob pena de passarem
para si o ónus do eclipse político no médio prazo.
A estocada final está dada por Passos Coelho que, com ou sem razão, conseguiu
passar a imagem do bom rapaz disposto a partilhar a bola com um adversário que,
sem a ter, a quer para si. O último desafio foi muito claro: Se quer influenciar
a governação, então venha jogar, não só com a nossa bola, mas dentro da nossa
equipa.
Neste momento, António Costa está
na camisa-de-forças em que ele mesmo se meteu. Coliga-se com a direita, e
perde eleitores à sua esquerda. Coliga-se com a esquerda depois dum acordo
que assuste os mercados, e escapam-lhe para a direita. Excluída, parece
a hipótese de que se coligue sem que os ditos mercados se assustem: nem
comunistas nem bloquistas estarão na disposição de perder a sua base eleitoral
apenas para que o Partido Socialista possa nomear um primeiro-ministro.
Resta-lhe o caminho da oposição, o que salvaria o PS, mas seria o seu fim político. O partido já percebeu isto, e não é difícil supor qual será a parte mais fraca.
Resta-lhe o caminho da oposição, o que salvaria o PS, mas seria o seu fim político. O partido já percebeu isto, e não é difícil supor qual será a parte mais fraca.
Para alguém que sempre se dedicou
à política, imagina-se que quão doloroso poderá ser: chegar aqui e morrer na praia,
depois de abandonar Lisboa e um leque de outros voos que o percurso de Jorge
Sampaio bem demonstra. Quanto mais depressa António Costa cair na real, mais
ganha o PS, a esquerda, a direita e o país… enfim, peso a mais para um só homem. É duro, sim; compreende-se, mas como diria outro
ex-secretário-geral, “É a vida!”
Luís Novais
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