A propósito duma entrevista que dei à Rádio
Universitaria do Minho, pediram-me uma lista de músicas que de alguma forma me tivessem marcado. Vantagens da sistematização, fui-me descobrindo nas
melodias da minha vida. E elas aí vão.
Uma lista que é uma
espécie de percurso de vida. Começo por Grândola, com que esta minha geração
despertou para uma essência chamada Liberdade; éramos ainda crianças de escola
primária e pudemos saboreá-la. Memórias de chegada a casa e a minha mãe no topo
das escadas: “Houve uma revolução em Lisboa!”… e também um testemunho de como
então se comunicava: Uma madrugada da qual só sabemos quando regressamos com o nosso pai, para almoçar.
O Siboney que aparece sem
saber o que aqui faz, espécie de homenagem a um grande escritor peruano, Bryce Echenique, e ao seu livro que leio neste momento, “El Huerto
de mi Amada”.
Abandono este livro e
volto à cronologia das coisas: Viva a ordem!
Rui Veloso, que aparece
duas vezes, primeiro com o Chico Fininho da adolescência , marco do chamado
rock português, depois em segunda vida, mais bossa nova, com Porto Covo, que
muito ouvi na universidade. Também da universidade, o Grupo de Música Popular da AAUM, ao qual pertenci. Os GNR,
lembrando-me concertos que organizei na Associação Académica, no velhinho
Estádio 1º de maio, nessa noite mesma
que me recorda também uma mulher. Sitiados, Freddy Mercury (com “Time
Waits for nobody”, que é central no despoletar da ação num dos meus livros,
ainda inédito), Selvagem… uma cadência de intérpretes e músicos que me foram
marcando ao ritmo dos respetivos lançamentos.
Amos Lee surge com
memória intensa duma viagem, duma loucura erótica e duma mudança de vida.
Silencio, ah, silêncio é
a nossa música. Já um dia a Yvonne me tinha dito que jamais casaria sem que o
dançássemos… além de que é pura Cuba.
As músicas da minha
segunda pátria, o Perú. Zambo Cavero, o mais emblemático dos músicos criollos.
Cesária de Évora aparece entre o Zambo e Susana Baca, como que fazendo uma
ponte entre Portugal e o Peru, com a trave mestra assente em Cabo Verde… Ai
Cabo Verde, Cabo Verde, és Atlântida dos que falamos português.
Arguedas canta em
Quichua, a mesma que falavam os antigos e os atuais incas, e Icaros numa língua
amazónica: Cegos pelos idiomas de consumo, esquecemo-nos de que há muito mais
língua na selva e nas serras do que sonha a nossa vanidade consumista. Só no
Peru são 10 milhões, os que não falam castelhano em primeiro lugar, mas antes uma das
46 línguas que são tão oficiais como a dominante.
Uma sucessão de sonhos é
aberta por Lila Downs, e aquece com Victor Jara e Chico Buarque, nessa carta
musicada que escreveu para Portugal quando a ditadura ainda era senhora do
Brasil… muitos não se lembram, como se tem visto: “A coisa aqui está preta”,
cantava e bem que pode continuar a cantar o Chico. Zeca Afonso, tão atual antes como agora, esses “Vampiros”, os que surgem em bando com pés de veludo.
A doçura cortante da
música de Jacques Brel, com memórias de amantes que foram, e yesterday,
simbólico, mas em jeito de intervalo antes de entrar nas músicas com que todos
os dias escrevo: Bach, dizem e sinto que sim, que a Barroca é a única capaz de
estimular os nossos dois hemisférios, unindo assim nós connosco. E, já
entrados, Mozart, claro.
Termino com Jazz, porque
não há melhor forma de terminar o que quer que seja que não com jazz.
Zeca Afonso, Grândola Vila Morena
Ernesto Lecuona, Siboney
Rui Veloso, Chico Fininho
GMPAAUM, Rosa Tirana
Rui Veloso, Porto Covo
GNR, Dunas
Sitiados, Esta Vida de Marinheiro
Freddy Mercury, Time waits
for nobody
Amos Lee, Arms of a
women
Buena Vista Social Club, Silencio
Zambo Cavero, Contigo
Perú
Cesaria de Évora, Sodade
Susana Baca, Negra presuntuosa
Jacques Brel, La Chanson
des vieux amants
The beatles, Yesterday
Bach, Bradenburg
Concert #3
Bach, Orchestral
suite #3
Mozart, Clarinet
Quintet – Larghetto
Mozart, Violin
Concert #5
Mozart, Gloria in
Excelsis Deo
Jimy Scot, Holding
Back de years
Charlie Parker, I Didn’t Know What Time it
Was
Charlie Parker, Night and Day
Charlie Parker, Cheryl
Miles Davis, Now’s the time
Miles Davis, Dear old Stockholm
Miles Davis, Yesterdays
Luís Novais
Foto: Steen Jepsen
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