O último relatório sobre desenvolvimento humano das Nações Unidas, apresenta dados muito interessantes, pelo que
traduzem das alterações que estão em processo na ordem mundial.
Entre outras, dou
relevo à integração comercial sul-sul que é cada vez mais notória.
Quem vive na
Europa, talvez não tenha consciência da importância que, presentemente, os austrais dão a esse diálogo, que materializam em organizações como a Cimeira Peru – Países Árabes, ou a Iniciativa de Desenvolvimento Trilateral
Índia Brasil e África do Sul (IBSA), entre muitas outras.
Ao mesmo tempo, surgem diversas organizações
de integração regional. Só na América do Sul, temos o Mercosul, a Comunidade
Andina das Nações, o Arco do Pacífico Latino-americano e, sobretudo, a UNASUR; esta
última coordenando grandes obras públicas tendentes à integração económica do continente. Uma estratégia que, refira-se, tem os olhos
voltados para Ocidente e Oriente, uma vez que liga o Atlântico com o Pacífico.
A par do esforço privado, estas iniciativas
estão a dar frutos e a libertar o sul da excessiva dependência económica do norte.
Segundo o referido relatório, de 1980 a 2011, as trocas comerciais entre países
enquadrados no conceito de sul, cresceram de 8% para 27%. No mesmo período, esta
proporção entre os do norte, baixou de 46% para 27%. Ou seja, o crescimento do norte
está cada vez mais dependente do sul e do sul cada vez mais dependente de si
mesmo.
Estes números deveriam originar uma profunda reflexão em Portugal. A adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986, criou uma ilusão
nortenha nos portugueses. Com uma economia tardiamente saída do modelo colonial
e tendo um tecido empresarial ainda habituado à proteção corporativista, a entrada na Europa
foi vista como um oásis, capaz de integrar o país numa grande zona económica e de
o fazer entrar sem esforço num modelo capitalista e liberal com pendente social. Infelizmente, a
par com o próprio modelo e com a quebra da sua parte social, o oásis transformou-se numa miragem.
Mais do que seguir respeitosamente uma
cartilha económica que lhe está a ser imposta, Portugal deveria refletir sobre a sua própria História e sobre o papel que pode e quer
ter no mundo. Subitamente, ser o país europeu mais próximo do sul, poderá
deixar de ser periférica posição, para se transformar numa das centralidades
do novo diálogo: o diálogo sul-norte, que se imporá porque, obviamente, um
sul em expansão económica e cultural, exigirá diálogo onde anteriormente havia
imposição e arrogância.
Afastarmo-nos politicamente do norte e
aproximarmo-nos do sul, é uma opção que poderá fazer a quadratura do círculo:
liga-nos ao norte porque nos liga ao sul e liga-nos ao sul porque
nos liga ao norte.
Já aqui defendi: soltar o nó górdio da União
Europeia e aproximarmo-nos politica e economicamente do Brasil e de Angola, será talvez a única forma de estarmos bem na Europa.
Luís Novais
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