O custo da dívida somado ao da salvação da
banca, está com um nível de insustentabilidade que originará uma política
fiscal ainda mais expansiva, levando a mais falências e à desistência de muitos pequenos e médios empresários, provocando um incremento da
emigração, ou seja, uma diminuição de contribuintes.
Ainda a procissão vai no adro e as diferentes estimativas oscilam entre
13.000 e 20.000 milhões de euros, como valor total dos balões de oxigénio que o Estado
português já meteu na moribunda banca nacional. Aguardam-se novas revelações dos casos do BES/Novo Banco e Montepio. Os valores finais serão
necessariamente maiores: se o BANIF representava 4% da atividade bancária e
custou quase 4.000 milhões, por quanto nos ficarão os 25% do BES?
Os números em abstrato nada dizem, e por isso fiz um pequeno exercício sobre
o seu significado relativo, considerando o valor mais baixo e o mais alto dos
diferentes cálculos. O valor do PIB é o
de 2014 e as despesas públicas as previstas no OGE de 2015.
São entre 76.000% e 11.170% do que gastamos em proteção do património,
entre 3.600% e 5.000% em Ciência e Tecnologia, 840% e 1.300% em segurança
interna, 600% a 900% em diplomacia e relações internacionais. São de 160% a 260%
dos gastos em educação e 109% a 160% dos de saúde.
Comparando com os diferentes ingressos públicos, são 49% a 76% da maior
receita do Estado, os impostos indirectos (IVA, ISP, Tabao etc), 62% a 95% das
contribuições sociais e 67% a 103% dos impostos diretos (IRS, IRC e IMI).
Partindo para os números gerais: 7,5% a 12% do PIB e 15% a 23% do Orçamento Geral do Estado (OGE).
Chega? Não. Nos últimos cinco anos, Portugal terá pago cerca de 35.000
milhões de euros em juros da dívida pública, ou seja, o equivalente a 41% do OGE de 2015 e mais do aquilo que se gastou em educação
durante esses mesmos 5 anos. Se a este valor somarmos os 13 a 20.000 milhões
das ajudas à banca, temos um retrato da nossa insustentabilidade.
Uma situação destas tem duas saídas: uma corresponde a cada cidadão, outra
ao Estado. A primeira tem a ver com a estratégia de vida de cada um, a segunda com uma nova estratégia nacional.
E não há dúvida de que, se o Estado não resolve o problema pela via do país, cada cidadão
terá de resolver pela via da emigração; uma
consequência lógica da incapacidade financeira para ficar, e também duma compreensível falta de vontade para assumir uma dívida e uma gestão bancária, que não foram da responsabilidade individual daqueles que agora são chamados a pagar.
Curiosamente, num artigo recentemente publicado no jornal peruano “La República”, Paul
Krugmen comentava a sua passagem por Portugal, fazendo uma reflexão sobre
o impacto da emigração no agravamento das contas nacionais. O Nobel da economia
analisava o montante da dívida portuguesa e concluía por uma “espiral de morte”
na demografia nacional: “Se a força laboral diminui devido à emigração, o serviço
da dívida requererá impostos mais altos para os que ficam, e poderia levar a
mais emigração”. A espiral de morte transforma-se em ciclo infernal, quando lhe
somamos o impacto negativo nas PME’s, também elas alvo de abusos e duma total discricionariedade
por parte da administração fiscal.
A conclusão é muito clara: O custo da dívida somado ao da salvação da
banca, está com um nível de insustentabilidade que originará uma política
fiscal ainda mais expansiva, incrementando falências, a desistência de muitos pequenos e médios empresários e a emigração, ou seja, uma quebra acentuada no número de contribuintes individuais e coletivos. Claro como água: Estamos
no tal ciclo infernal.
Outra alternativa é que o Estado assuma o problema de frente e proceda
a reformas nos modelos económico e geoestratégico. Defendo não ser com um
capitalismo financista assente em mega corporações que nós e outros poderemos
mudar de ciclo, defendo que não temos estofo para estar no euro e que a Europa
não é o nosso caminho, assim como nunca foi.
É curioso que por vezes nos refugiamos no mundo da ficção para defender aquilo
em que acreditamos. Tudo o que acho sobre aquilo que estamos a viver e sobre o caminho que penso devermos seguir, escrevi-o em 2010 e em 2011, em dois romances: “O
Heroico Major Fangueira Fagundes”, primeiro, e a “Crónica d’Orelhudos”, depois. Se a ficção pode antecipar a realidade, também esta pode ultrapassar aquela!
Voltarei a este tema.
Luís Novais