quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

DOS “ERROS” DO FMI À SOCRÁTICA MEGALOMANIA, COM PASSAGEM PELO BANIF



Sócrates convenceu-se de que o país judicial, jornalístico e político, andou 20 anos sem fazer mais do que pensar em destruí-lo. Paranoia com megalomania; quem assim pensa, mais depressa deve repousar no divã do Dr. Freud, do que sentar-se na cadeira de primeiro-ministro.

O famoso divã de Freud

“Se os países têm um rácio de dívida elevado ou se a sustentabilidade da sua dívida não pode ser assumida categoricamente, então a reestruturação da dívida à cabeça é uma solução desejável”. De quem são estas afirmações? Se a sua resposta é Varoufakis, desengane-se: Acabam de ser proferidas por Vivek Arora, diretor do Departamento de Análise Estratégica e Política do FMI. (Cito o Diário Económico)

Aqueles que passamos os últimos quatro anos em defesa da reestruturação da dívida e que fomos considerados poetas, idealistas e utópicos, temos agora a satisfação moral de concluir que é verdade aquilo que também se costuma dizer dos utópicos, idealistas e poetas: que são visionários.

Não é nada que não se soubesse e o caso mais paradigmático é o exaustivamente recordado exemplo do tratamento de exceção que foi dado à dívida alemã depois da II Guerra.

Tivemos uma vitória de Pirro, mas soube-me bem. Até porque os cestos ainda não foram lavados e, portanto, a vindima prossegue. A nossa dívida anda pelos 130% do PIB, e não há outra forma de a superar que não seja no muito longo prazo. Este é talvez o momento para relembrar que, no negócio prestamista,  tão responsável é quem deve como quem empresta.

Há quatro anos o FMI e a UE não sabiam disto? Claro que sabiam, mas premeditaram passar aos contribuintes os riscos que eram dos bancos. É por isso que, passada a etapa “A” de austeridade, já podem passar à “R” de reestruturação. Estes discursos são prenúncio da mudança.   

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José Sócrates deu uma entrevista em que basicamente repetiu uma série de teses que, por si ou pela sua defesa, já todos conhecíamos. Primeiro, que nada daquilo era dele mas “do meu amigo Carlos Santos Silva”. Segundo, que há um complô, que implicaria duas décadas de coordenação entre dezenas de juízes, jornalistas e políticos de direita. Há uns bons 20 anos que todos se juntaram para conspirar contra a sua carreira política: teriam começado na Cova da Beira, daí ao Free Port e finalmente este caso.

Fazendo um exercício de ingenuidade e dando por completamente verdadeiras as explicações que dá na tese do “não é meu, é do meu amigo”, não poderíamos fazer um juízo criminal, mas é válido o político, social e de carácter. A conclusão é muito clara e, se não, que tire outra quem se sinta confortável entregando a direção dum país à mesma pessoa que, em cerca dum ano e meio,  dissipou quase um milhão de euros (João Miguel Tavares fez as contas aqui); ainda por cima, dizendo que passava por dificuldades financeiras. Sócrates foi ao ponto de se equiparar a quem faz mestrados e doutoramentos em universidades estrangeiras, geralmente graças a uma bolsa.

Quanto à tese do complô; mais do que paranoica é megalómana. Convenceu-se de que o país judicial, jornalístico e político, andou 20 anos sem fazer mais do que pensar em como destruí-lo. Quem assim pensa, mais depressa deve repousar no divã do Dr. Freud, do que sentar-se na cadeira de primeiro-ministro.

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E por falar em primeiro-ministro, temos agora um caso que nos leva de volta às considerações iniciais sobre o FMI. António Costa acaba de pronunciar-se sobre  o BANIF, dizendo que não pode dar ao contribuinte as mesmas boas notícias que dá aos depositantes (ver mais no Jornal de Negócios). Continuo sem perceber esta tendência de castigar os que pagam impostos sem poderem decidir a quem, em vez dos que fazem depósitos, decidindo onde.


Luis Novais

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