Sócrates convenceu-se de que o país
judicial, jornalístico e político, andou 20 anos sem fazer mais do que pensar
em destruí-lo. Paranoia com megalomania; quem assim pensa, mais depressa deve repousar
no divã do Dr. Freud, do que sentar-se na cadeira de primeiro-ministro.
O famoso divã de Freud |
“Se os países têm um rácio de dívida elevado ou se a sustentabilidade da sua dívida não pode ser assumida categoricamente, então a reestruturação da dívida à cabeça é uma solução desejável”. De quem são estas afirmações? Se a sua resposta é Varoufakis, desengane-se: Acabam de ser proferidas por Vivek Arora, diretor do Departamento de Análise Estratégica e Política do FMI. (Cito o Diário Económico)
Aqueles que passamos os últimos quatro anos em defesa da reestruturação da
dívida e que fomos considerados poetas, idealistas e utópicos, temos agora a
satisfação moral de concluir que é verdade aquilo que também se costuma dizer
dos utópicos, idealistas e poetas: que são visionários.
Não é nada que não se soubesse e o caso mais paradigmático é o
exaustivamente recordado exemplo do tratamento de exceção que foi dado à dívida
alemã depois da II Guerra.
Tivemos uma vitória de Pirro, mas soube-me bem. Até porque os cestos ainda não
foram lavados e, portanto, a vindima prossegue. A nossa dívida anda pelos 130%
do PIB, e não há outra forma de a superar que não
seja no muito longo prazo. Este é talvez o momento para relembrar que, no negócio prestamista, tão responsável é quem deve como quem empresta.
Há quatro anos o FMI e a UE não sabiam disto? Claro que sabiam, mas
premeditaram passar aos contribuintes os riscos que eram dos bancos. É por isso
que, passada a etapa “A” de austeridade, já podem passar à “R” de reestruturação.
Estes discursos são prenúncio da mudança.
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Fazendo um exercício de
ingenuidade e dando por completamente verdadeiras as explicações que dá na tese
do “não é meu, é do meu amigo”, não poderíamos fazer um juízo criminal, mas é
válido o político, social e de carácter. A conclusão é muito clara e, se não,
que tire outra quem se sinta confortável entregando a direção dum país à mesma pessoa que, em cerca dum ano e meio, dissipou quase um milhão de euros (João
Miguel Tavares fez as contas aqui); ainda por cima, dizendo que passava
por dificuldades financeiras. Sócrates foi ao ponto de se equiparar a quem faz mestrados e doutoramentos em universidades estrangeiras, geralmente graças a uma bolsa.
Quanto à tese do complô; mais do que paranoica é megalómana. Convenceu-se
de que o país judicial, jornalístico e político, andou 20 anos sem fazer mais
do que pensar em como destruí-lo. Quem assim pensa,
mais depressa deve repousar no divã do Dr. Freud, do que sentar-se na cadeira
de primeiro-ministro.
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E por falar em primeiro-ministro, temos agora um caso que nos leva de volta às considerações iniciais sobre o FMI. António Costa acaba de pronunciar-se
sobre o BANIF, dizendo que não pode dar
ao contribuinte as mesmas boas notícias que dá aos depositantes (ver
mais no Jornal de Negócios). Continuo sem perceber esta tendência de castigar os que pagam impostos sem poderem decidir a quem, em vez dos que fazem depósitos,
decidindo onde.
Luis Novais
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