quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

ÊXITOS, FALHAS E LIÇÕES DO CHAVISMO




É certo que a dupla Chavez-Maduro não alcançou os objetivos de desenvolvimento que seriam expectáveis; mas tampouco o modelo liberal que os antecedeu.

A derrota clara de Maduro nas eleições parlamentares venezuelanas, não deve ofuscar as lições aprendidas com 16 anos consecutivos de governo chavista.

A vida diária no país está insustentável, com falhas no abastecimento de bens essenciais, e à população não lhe resta outra alternativa do que passar largas horas em filas intermináveis. Ao mesmo tempo, grassa a insegurança e a rua transformou-se num lugar muito perigoso de frequentar.

Enquanto a nova maioria celebra vitória, e enquanto quase todos proferem discursos sobre a falência do socialismo chavista, há que assentar os pés na realidade. É certo que a dupla Chavez-Maduro não alcançou os objetivos de desenvolvimento que seriam expectáveis; mas tampouco o modelo liberal que os antecedeu.

Graças às suas reservas petrolíferas, a Venezuela é uma nação extraordinariamente rica. Rica sim, mas até à “revolução bolivariana” a maioria da população estava excluída do desenvolvimento e nada tinha a perder. Foram estes que aderiram entusiasticamente aos seus governos.

Os números são claros. Segundo a CEPAL (organismos das Nações Unidas), um ano antes da sua presidência 78% da população vivia entre a indigência (23.4%) e a pobreza (54.5%). Em 2013, o ano da sua morte, esta cifra tinha descido para 42%, com 9.8% de indigentes e 32.1% de pobres. 

Só assim conseguimos compreender consecutivos resultados eleitorais. O comandante somava vitórias, apesar das críticas da imprensa, das vozes dos líderes de opinião, da revolta mais ou menos silenciosa da classe média e do protesto dos muito ricos. Porquê? Porque para quase 80% da população que vivia em condições miseráveis, representou uma esperança, primeiro, e uma real ascensão económica, depois. Chávez deu-lhes a dignidade que lhes tinha sido negada, por isso o idolatravam.

Claro que o regime tinha muitos defeitos que nem é preciso enumerar, e que foram ampliados pela inabilidade de Maduro. A própria escolha do sucessor foi um sinal dessas debilidades: Chávez considerava-se providencial e dum homem que assim se crê, sempre se afastam os melhores. 

Neste momento, parece que pouco mais resta a Maduro do que um processo de lenta agonia até à queda final. Mas de tudo isto deve guardar-se lição: não é possível construir um sistema na base da exclusão.

Os que muito têm a ganhar, muito perdem se grande parte da população nada tiver a perder. Quando a exclusão social é generalizada e o reformismo não cumpre com o seu papel, tarde ou cedo se abre a porta à revolução; esta é a moral da história, e não estou certo de que tenha sido compreendida por aqueles que, dentro e fora da Venezuela, festejam o resultado eleitoral.


Luís Novais

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