Ontem fartei-me. Fartei-me do escritório e das prateleiras do escritório e do computador no escritório. Desliguei-o. Trouxe-o para a sala. Trouxe também alguns papéis. E é como se tivesse mudado de continente. Estou a trabalhar na sala. Até que me farte da sala. E faça as pazes com o escritório. Ou mude mesmo de continente. Mas quando mudei do escritório para a sala houve quem tivesse mudado comigo: uma formiga. É preta e ontem reparei nela sobre o branco dos papéis que viajaram comigo na mudança. Depois fartei-me do trabalho. E mudei de tarefa. E saí. E fui jantar. E encontrei gente. E conversei. E regressei. E deitei-me. E dormi. E hoje acordei. E arranjei-me. E voltei à sala. E voltei a ligar o computador.
Tanta coisa apenas entre ontem e hoje. Um universo de coisas. E agora reparo nela: na formiga. Continua em cima dos papéis da mesa da sala. Esses papéis que na minha indisposição transferi com a formiga do escritório para a sala. Parece desorientada, ela. Percorre os papéis e depois percorre a mesa e depois percorre os papéis e depois pára sobre as letras como se o preto das letras fosse o preto das outras formigas. E quando percebe que o preto das letras não é o preto de outras formigas: volta a caminhar: papeis, mesa, papeis. Sempre a caminhar. Está sozinha, a formiga.
A minha mudança do escritório para a sala foi a metáfora duma mudança de continente. Será a formiga uma metáfora de nós, de mim?
quinta-feira, 26 de março de 2009
quarta-feira, 25 de março de 2009
A circularidade do círculo
Há dias conheci um embaixador. Está em final de carreira. “A falta de grandes objectivos diplomáticos nacionais está a provocar alcoolismo nas nossas embaixadas”, diz. Será que estamos condenados a caminhar desta forma? Enganarmo-nos a nós próprios e depois sermos vencidos pela vida? Ele pertenceu à geração que acreditou na via europeia. Está desiludido, claro. Hoje é óbvio: mais uma oportunidade perdida. Naquele tempo não era. A geração anterior acreditara na via colonial. Acabou desiludida, claro: também perdeu a sua oportunidade. E eu não fujo à regra. Tenho de me enganar a mim próprio: sou cada vez mais atlântico. Não quero pertencer a nenhum continente. Quero pertencer a um oceano. Não quero ser da terra. Quero ser do mar. Portugal e Angola e Brasil e cabo Verde e Guiné. Que bonito que é. Um dia vou acabar desiludido, claro. Mas para já é agradável essa sensação de me estar a enganar a mim mesmo.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Sou laico. Escrevi-o. E é verdade, se é que a verdade é. Mas às vezes vou à missa. É raro. Mas embora raro, acontece. Não sei porquê. Não sei e nem quero e nem preciso e nem devo saber. Apetece-me, apenas. Devemos guardar algum mistério de nós próprios. Devemos guardá-lo até desse personagem que julgamos nosso e a quem chamamos “eu”. E assim quando esse “eu” fica insuportável tem sempre recursos que desconhecia ter. Recursos que eram um mistério de si sobre si. E é talvez por isso que de vez em quando vou continuar a ir, à missa. E é de certeza por isso que vou continuar sem saber porquê. E que vai continuar a ser verdade que sou laico. Se é que a verdade é.
sexta-feira, 20 de março de 2009
Preservatismos
O Estado é laico. Ainda bem. A religião não deve interferir nos assuntos de Estado. Ainda bem. Eu e os outros agnósticos deviamos perceber qual é a contrapartida para a laicidade da coisa pública: a religião também fica independente do Estado e o Estado não deve interferir nos assuntos da religião. Deviamos perceber, deviamos.
O Sumo Pontífice dos católicos tem pleno direito de ver as coisas de acordo com a fé que é a sua. Obrigação até, julgo eu. Em alguns aspectos essa visão coincide com a minha. Em alguns aspectos não coincide. Sou-lhe indiferente, na maioria dos aspectos.
No que respeita às tecnologias de contracepção, não sou indiferente. Estou nas antípodas. E tenho esse direito legal: vivo num sistema em que o Estado é laico.
Mas é porque os Estados são Laicos que César não deve interferir naquilo que não é de César. Falo de César ele mesmo: do Estado e dos seus diversificadissimos departamentos. Não falo do cidadão: esse pode meter-se com quem quiser. E se César é laico: César não deve interferir nas questões de fé. Mas interferiu. Está mal. Amanhã alguém da hierarquia católica vai interferir com César. É fatal. Está sempre a acontecer e porque está sempre a acontecer: acontecerá. E César vai queixar-se. E terá razão em queixar-se.
quinta-feira, 19 de março de 2009
A CLOSE FARWELL
In this farewell
I find a close well
So far is the edge
So close is the fate
Find your edge.
I’ll be looking for mine.
More and more find your edge.
More and more I’ll look for mine.
And, who knows:
One day you will find;
One day I will find
The edge is not the destiny;
The path is not the destiny;
The carried stone is.
And who knows you will find;
And who knows I will find:
You are pushing a stone,
and the stone you push
is the very same stone I pull
And being your pushed stone.
And being my pulled stone.
The stone will not be a stone.
But fingers,
fingers tips,
fingers extremities.
And also fingers bases: hands
Hands with fingers
Fingers with hands
Hands to hands
Fingers to fingers.
And the colors will mix
And the canvas will be there
And the picture will happen
Carry the stone.
Once and once carry your stone.
I will pull mine.
Once and once I will pull mine.
And the time was there.
And the time is there
And the time will be there.
Who knows where will it be?
But it will be!
I find a close well
So far is the edge
So close is the fate
Find your edge.
I’ll be looking for mine.
More and more find your edge.
More and more I’ll look for mine.
And, who knows:
One day you will find;
One day I will find
The edge is not the destiny;
The path is not the destiny;
The carried stone is.
And who knows you will find;
And who knows I will find:
You are pushing a stone,
and the stone you push
is the very same stone I pull
And being your pushed stone.
And being my pulled stone.
The stone will not be a stone.
But fingers,
fingers tips,
fingers extremities.
And also fingers bases: hands
Hands with fingers
Fingers with hands
Hands to hands
Fingers to fingers.
And the colors will mix
And the canvas will be there
And the picture will happen
Carry the stone.
Once and once carry your stone.
I will pull mine.
Once and once I will pull mine.
And the time was there.
And the time is there
And the time will be there.
Who knows where will it be?
But it will be!
segunda-feira, 16 de março de 2009
A propósito de "O Mandarim", de Eça de Queirós.
Acabo de reler “O Mandarim”. Quem “acusa” Eça de ser um escritor realista devia prestar mais atenção a esta obra.
A partir da segunda edição, o conto passou a incluir a “Lettre que aurait du être une préface”: uma carta que o escritor enviou ao Redactor da francesa “Revue Universelle”: “Vou voullez, Monsieur, donner aux lecteurs de la Revue Universelle une idée du mouvement littéraire contemporain en Portugal, et vous me faites l’honneur de choisir Mandarim, un conte fantaisiste et fantastique, où l’on voit encore, comme au bon vieux temps, apparaître le diable”.
Nesta releitura achei curiosa a preocupação que Eça aqui demonstra. Desde logo porque eu próprio acabo de lançar um romance, “Os Parricidas”, onde o Dito diabo faz as suas apariçõezinhas, naturalmente que com bastante menos mestria do que aquelas que fez em “O Mandarim”… desculpe-se o meu ilustre personagem: que conste, Diabo, Diabo, a haver, que o há, é só um. E por isso as diferenças estão, neste caso, nos desníveis do génio de quem o descreve e não no personagem em si mesmo.
Mas, não levemos o meu egocentrismo ao ponto de me fazer crer que foi esta coincidência que mais me atraiu na referida carta. Não é que eu o renegue, ao egocentrismo: renegá-lo será talvez, para qualquer pessoa, colocar-se num estado de harmonia tão grande com o cosmos que seria, em si mesmo, uma arrogância. Especificando: a fórmula máxima de pôr o “Eu” nos píncaros.
Adiante.
Curioso, curioso, é o facto de Eça como que pedir desculpa por ter escrito uma obra onde surge a figura mitológica do Diabo. E percebe-se que essa desculpa se fundamenta num sentido de responsabilidade para com os seus pares portugueses. Afinal, “O Mandarim” tinha sido escolhido pela revista para ilustrar a literatura que à época se fazia em Portugal. E “O Mandarim”, com o seu pendor fantástico, não era, de forma alguma, o tipo de literatura por que Eça e os seus pares da geração de 70 pugnaram.
Netos da “Luzes” setecentistas e filhos do positivismo oitocentista, os escritores da época procuraram transferir o laboratório para as páginas dos seus romances. É o próprio Eça quem o afirma quando, na referida carta, diz que “hoje toda a nossa juventude literária, e até alguns dos mais velhos, escapados do romantismo…” se entregam “…pacientemente ao estudo da natureza…” e fazem “…constantes esforços para inserir nos livros o máximo de realidade viva”. Não obstante, diz, “aqui, neste canto ensoalhado do mundo, nós continuamos a ser muito idealistas no fundo e muito líricos.” Mas “Isto não podia continuar, principalmente depois que a evolução naturalista triunfou em França, e a direcção das ideias, no que tocava à arte, parecia dever ficar nas mãos da ciência experimental”. E é precisamente neste movimento que me atrevo a chamar de Literatura de laboratório que (não obstante “O Mandarim”)Eça se quer ver incluído: “Contudo, mesmo antes do naturalismo, entre nós, já alguns jovens espíritos tinham compreendido que a literatura de um país não podia ficar para sempre alheia ao mundo real”. Para concluir (note-se que na primeira pessoa do plural) que: “Impusemo-nos, pois, corajosamente o dever de jamais olhar o céu – mas a rua”.
O incómodo de Eça é compreensível. Antero, Teófilo Braga, Oliveira Martins, enfim, tanto os que directamente estiveram na origem da “Questão Coimbrã”, como os que foram por ela originados, dificilmente lhe desculpariam que “O Mandarim” fosse considerado em França (e logo em França!) como um exemplo da literatura contemporânea portuguesa.
Julgo que daí a razão de ser desta carta. Uma carta que é uma espécie de desculpabilização. Que é um como que dizer: eu sou um homem dos tempos modernos. Eu sou um naturalista. Eu sei que a literatura é uma arma de combate e não uma espécie de recurso onírico. Eu sou e eu sei isso tudo. Mas apesar de tudo o que sou e sei, por vezes não consigo deixar de ser português: “neste meio real, contemporâneo, banal, o artista português, habituado às belas incursões através do ideal, asfixiava; e, se por vezes não pudesse fazer uma escapadela até ao azul, bem depressa ele morreria da nostalgia da quimera.” E então “pelo menos durante um pequeno volume, já não se suporta a incómoda submissão à verdade, a tortura da análise, a impertinente tirania da realidade.” Acto de contrição feito: “escrita a ultima folha, corrigida a ultima prova, abandona-se a rua, volta-se ao passeio e retoma-se o estudo severo do homem e da sua miséria externa. Contente? Não senhor, resignado.”
Compreende-se. Eça e os seus são netos das luzes setecentistas e são filhos do empirismo oitocentista. Esse mesmo empirismo que tinha a razão, a experiência, o experimentalismo e o laboratório como sustentáculos. Filhos desse século XIX que procurou abolir qualquer causalidade que não fosse material. Que vivia obcecado por explicar tudo cientificamente. Tão obcecado que já não se contentava em explicar cientificamente: queria agir cientificamente. De tal forma obcecado que a única ideologia que gerou (o socialismo que se disse científico) elevou a Ciência a fonte de legitimidade política. Tão obcecado que acreditou que qualquer homem seria bom desde que ilustrado por uma espécie de racionalidade científica: essa mesma crença (e sublinho o termo crença pela contradição que implica) que fez com que um génio como Freud tivesse procurado uma glândula do comportamento, ou duas, já que em homens como em mulheres a dita glândula é, regra geral mas com excepções, um par de glândulas.
E é por isso que Eça quase pede desculpa por ter escrito “O mandarim”: por ter supostamente sido influenciado pelo passado.
Mas Eça não sabia. Não sabia e nem podia saber. Enquanto escrevia a “lettre que aurait du être une préface”, Eça não sabia que vinte e oito anos depois Kafka viria a escrever “A Metamorfose”. Que trinta e quatro anos depois essa mesma ciência que supostamente levaria a um homem bom, possibilitou, isso sim, a guerra mais sangrenta que a humanidade conhecera. Enquanto escrevia a “lettre que aurait du être une préface”, Eça não sabia que Virginia Woolf nascera dois anos antes. Assim como não sabia que trinta anos depois James Joyce começaria a escrever “Ulisses”. E que dentro de oitenta e três anos Gabriel Garcia Marquez publicaria “Cem anos de Solidão”. E que quase cem anos depois um português como ele, José Saramago, escreveria “O Homem Duplicado”.
Eça não podia saber nada disto. Mas em “O Mandarim” parece adivinhar tudo. E é por isso que acho curioso aquilo que faz na carta ao Redactor da “Revue Univverselle”: como que pede desculpa pelo pecadozinho de ter sido influenciado pelo passado. Influenciado sim. Mas Eça não sabia pelo quê: afinal em “O Mandarim” estava influenciado pelo futuro. E essa é a característica mor dos génios: serem influenciados pelo futuro.
A partir da segunda edição, o conto passou a incluir a “Lettre que aurait du être une préface”: uma carta que o escritor enviou ao Redactor da francesa “Revue Universelle”: “Vou voullez, Monsieur, donner aux lecteurs de la Revue Universelle une idée du mouvement littéraire contemporain en Portugal, et vous me faites l’honneur de choisir Mandarim, un conte fantaisiste et fantastique, où l’on voit encore, comme au bon vieux temps, apparaître le diable”.
Nesta releitura achei curiosa a preocupação que Eça aqui demonstra. Desde logo porque eu próprio acabo de lançar um romance, “Os Parricidas”, onde o Dito diabo faz as suas apariçõezinhas, naturalmente que com bastante menos mestria do que aquelas que fez em “O Mandarim”… desculpe-se o meu ilustre personagem: que conste, Diabo, Diabo, a haver, que o há, é só um. E por isso as diferenças estão, neste caso, nos desníveis do génio de quem o descreve e não no personagem em si mesmo.
Mas, não levemos o meu egocentrismo ao ponto de me fazer crer que foi esta coincidência que mais me atraiu na referida carta. Não é que eu o renegue, ao egocentrismo: renegá-lo será talvez, para qualquer pessoa, colocar-se num estado de harmonia tão grande com o cosmos que seria, em si mesmo, uma arrogância. Especificando: a fórmula máxima de pôr o “Eu” nos píncaros.
Adiante.
Curioso, curioso, é o facto de Eça como que pedir desculpa por ter escrito uma obra onde surge a figura mitológica do Diabo. E percebe-se que essa desculpa se fundamenta num sentido de responsabilidade para com os seus pares portugueses. Afinal, “O Mandarim” tinha sido escolhido pela revista para ilustrar a literatura que à época se fazia em Portugal. E “O Mandarim”, com o seu pendor fantástico, não era, de forma alguma, o tipo de literatura por que Eça e os seus pares da geração de 70 pugnaram.
Netos da “Luzes” setecentistas e filhos do positivismo oitocentista, os escritores da época procuraram transferir o laboratório para as páginas dos seus romances. É o próprio Eça quem o afirma quando, na referida carta, diz que “hoje toda a nossa juventude literária, e até alguns dos mais velhos, escapados do romantismo…” se entregam “…pacientemente ao estudo da natureza…” e fazem “…constantes esforços para inserir nos livros o máximo de realidade viva”. Não obstante, diz, “aqui, neste canto ensoalhado do mundo, nós continuamos a ser muito idealistas no fundo e muito líricos.” Mas “Isto não podia continuar, principalmente depois que a evolução naturalista triunfou em França, e a direcção das ideias, no que tocava à arte, parecia dever ficar nas mãos da ciência experimental”. E é precisamente neste movimento que me atrevo a chamar de Literatura de laboratório que (não obstante “O Mandarim”)Eça se quer ver incluído: “Contudo, mesmo antes do naturalismo, entre nós, já alguns jovens espíritos tinham compreendido que a literatura de um país não podia ficar para sempre alheia ao mundo real”. Para concluir (note-se que na primeira pessoa do plural) que: “Impusemo-nos, pois, corajosamente o dever de jamais olhar o céu – mas a rua”.
O incómodo de Eça é compreensível. Antero, Teófilo Braga, Oliveira Martins, enfim, tanto os que directamente estiveram na origem da “Questão Coimbrã”, como os que foram por ela originados, dificilmente lhe desculpariam que “O Mandarim” fosse considerado em França (e logo em França!) como um exemplo da literatura contemporânea portuguesa.
Julgo que daí a razão de ser desta carta. Uma carta que é uma espécie de desculpabilização. Que é um como que dizer: eu sou um homem dos tempos modernos. Eu sou um naturalista. Eu sei que a literatura é uma arma de combate e não uma espécie de recurso onírico. Eu sou e eu sei isso tudo. Mas apesar de tudo o que sou e sei, por vezes não consigo deixar de ser português: “neste meio real, contemporâneo, banal, o artista português, habituado às belas incursões através do ideal, asfixiava; e, se por vezes não pudesse fazer uma escapadela até ao azul, bem depressa ele morreria da nostalgia da quimera.” E então “pelo menos durante um pequeno volume, já não se suporta a incómoda submissão à verdade, a tortura da análise, a impertinente tirania da realidade.” Acto de contrição feito: “escrita a ultima folha, corrigida a ultima prova, abandona-se a rua, volta-se ao passeio e retoma-se o estudo severo do homem e da sua miséria externa. Contente? Não senhor, resignado.”
Compreende-se. Eça e os seus são netos das luzes setecentistas e são filhos do empirismo oitocentista. Esse mesmo empirismo que tinha a razão, a experiência, o experimentalismo e o laboratório como sustentáculos. Filhos desse século XIX que procurou abolir qualquer causalidade que não fosse material. Que vivia obcecado por explicar tudo cientificamente. Tão obcecado que já não se contentava em explicar cientificamente: queria agir cientificamente. De tal forma obcecado que a única ideologia que gerou (o socialismo que se disse científico) elevou a Ciência a fonte de legitimidade política. Tão obcecado que acreditou que qualquer homem seria bom desde que ilustrado por uma espécie de racionalidade científica: essa mesma crença (e sublinho o termo crença pela contradição que implica) que fez com que um génio como Freud tivesse procurado uma glândula do comportamento, ou duas, já que em homens como em mulheres a dita glândula é, regra geral mas com excepções, um par de glândulas.
E é por isso que Eça quase pede desculpa por ter escrito “O mandarim”: por ter supostamente sido influenciado pelo passado.
Mas Eça não sabia. Não sabia e nem podia saber. Enquanto escrevia a “lettre que aurait du être une préface”, Eça não sabia que vinte e oito anos depois Kafka viria a escrever “A Metamorfose”. Que trinta e quatro anos depois essa mesma ciência que supostamente levaria a um homem bom, possibilitou, isso sim, a guerra mais sangrenta que a humanidade conhecera. Enquanto escrevia a “lettre que aurait du être une préface”, Eça não sabia que Virginia Woolf nascera dois anos antes. Assim como não sabia que trinta anos depois James Joyce começaria a escrever “Ulisses”. E que dentro de oitenta e três anos Gabriel Garcia Marquez publicaria “Cem anos de Solidão”. E que quase cem anos depois um português como ele, José Saramago, escreveria “O Homem Duplicado”.
Eça não podia saber nada disto. Mas em “O Mandarim” parece adivinhar tudo. E é por isso que acho curioso aquilo que faz na carta ao Redactor da “Revue Univverselle”: como que pede desculpa pelo pecadozinho de ter sido influenciado pelo passado. Influenciado sim. Mas Eça não sabia pelo quê: afinal em “O Mandarim” estava influenciado pelo futuro. E essa é a característica mor dos génios: serem influenciados pelo futuro.
Claro que, a rematar, e sem desprimor, não posso deixar de referir que em 1890 Oscar Wilde publicou "The Picture of Dorian Gray", um livro onde o realismo já é mágico. E digo "sem desprimor" porque não podemos confundir "património literário da humanidade" com "património literário da língua portuguesa".
Concluindo:“O Mandarim”: um pequeno conto de José Maria Eça de Queirós: a minha leitura favorita, de entre todas as que o génio nos proporciona.
Concluindo:“O Mandarim”: um pequeno conto de José Maria Eça de Queirós: a minha leitura favorita, de entre todas as que o génio nos proporciona.
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quinta-feira, 12 de março de 2009
Ainda a propósito da onda de censura
Nilson Barcelii do Blog Nimbypolis, que eu sigo com interesse e que faz o favor de me seguir, comentou o meu artigo “Já vi coisas piores começarem melhor” onde falo do estranho aparecimento duma onda de censura. Fi-lo a propósito de dois casos recentes que são sobejamente conhecidos: a apreensão do livro “Pornocracia” pela Polícia de Segurança Pública de Braga e a proibição seguida de desproibição do desfile do computador Magalhães no carnaval de Torres Vedras.
O comentário de Nilson foi o seguinte: “É lamentável, mas julgo não ser preocupante, já que não há nenhuma campanha de censura em curso...”
Talvez graças a este comentário fiquei mais atento ao tema. E já não me refiro ao caso português. No que toca a tendências temos de estar sempre mais atentos à famigerada globalização do que a casos nacionais. E globalmente os sinais não são assim tão desinquietantes.
Notícia 1: o jornalista paquistanês Syed Pervez Kambakhsh viu a sua condenação à morte comutada em vinte anos de prisão. Motivo: blasfémia. A blasfémia: debateu online o artigo duma iraniana residente na Europa. O tema do artigo: a falta de direitos da mulher afegã.
Um exotismo afegão, poderá dizer-se. Mas estamos a falar do mesmo Afeganistão cujo regime é suportado por tropas ocidentais, incluindo portuguesas. Chocou-me ainda a leveza do protesto da organização “Repórteres sem Fronteiras” que se limitou a um singelo pedido ao governo afegão para que altere a lei aplicada à basfémia, isto segundo o “Diário de Notícias” de hoje.
Notícia 2: Geórgia decidiu que já não vai à Eurovisão. A organização exigira que este país nomeasse um novo representante ou apresentasse uma nova canção. A canção: “We don’t wanna put in” dos Stephanie&3G. Um título interpretado (e bem) como sendo uma crítica ao primeiro-ministro russo, Vladimir Putin que, como é sabido, governa um país onde a liberdade de imprensa é cada vez mais aquilo que é. E desta vez nem sequer valeu aos interpretes a forma velada com que abordaram a questão. Os censores de Salazar podiam ser ignorantes e deixar passar Carlos Marques por Karl Marx. Os censores da Eurovisão não padecem da mesma ignorância “put in” é Putin.
E agora um artigo que é mais do que a cereja no topo do bolo: o artigo é de Neal Rosendorf e está publicado na “American Interest” de Março. O título: Popaganda. O subtítulo: What can Hollywood do for (and to) China. O tema: o governo de Pequim está muito triste porque não consegue produzir cinema capaz de promover o país. Uma tristeza que terá evoluído para depressão, após constatarem que Hollywood produziu mais um êxito de bilheteira com a história de animação Kung Fu Panda. Perante este êxito, as autoridades de Pequim questionavam-se sobre o porquê dos chineses não terem eles próprios sido capazes de produzir aquele aquele filme. Um filme que, afinal, é todo ele baseado na iconografia chinesa, a começar pelo próprio panda.
Preocupadas, as autoridades decidiram incumbir um comité de estudar o assunto e apresentar propostas. E o comité chegou a uma conclusão: Pequim deverá diminuir o controle sobre a industria cinematográfica, por forma a permitir uma maior liberdade criativa e, assim, ser capaz de produzir filmes que expandam pelo mundo os valores da cultura chinesa.
Não me vou pronunciar sobre a contradição entre o dirigismo patente no objectivo e a ideia de dar maior liberdade aos cineastas. Independentemente disso, é positivo que um regime fechado como o de Pequim comece a pensar duma forma que se pode resumir no seguinte aforismo: não há criatividade sem liberdade de expressão.
O que me indigna é que Neal Rosendorf, o citado autor do citado artigo, defenda o que aí defendeu.
O que defendeu Neal Rosendorf: que a China não conseguirá utilizar o cinema como máquina de propaganda a menos que incentive a implantação dum estúdio permanente de Hollywood em território chinês. E porquê? Primeiro porque Hollywood sabe fazê-lo melhor do que ninguém. E depois porque a propaganda feita por estrangeiros é mais credível do que a propaganda feita por chineses.
Sórdido é o exemplo que dá: o de Samuel Bronston que entre 1950 e 1964 teve apoio da ditadura de Franco para instalar um estúdio em Madrid. E Neal Rosendorf explica a vantagem: anteriormente o regime franquista tentara apoiar a produção nacional de grandes épicos de pendor nacionalista. Procurava com isso ultrapassar o isolamento internacional e promover os putativos valores espanhóis. Procurar procurava, mas sem êxito: fora de Espanha os filmes eram estrondosos fracassos.
A instalação dos estúdios de Samuel Bronston em Madrid alterou o panorama e grandes produções internacionais passaram a ser feitas em Espanha. Claro que, para isso, submetendo-se à censura do ditador, o que Rosendorf não oculta e, inclusive, dá como exemplo às autoridades chinesas sobre o que poderia ser feito.
Por fim o mais obscuro: Rosendorf alerta para que de forma alguma as autoridades chinesas deverão apoiar directamente este projecto, pois isso desacreditá-lo-ia e, assim, a propaganda não teria efeito. Mas Rosendorf vai lembrando que, se pelas mesma razões, Franco não apoiou directamente Samuel Bronston, arranjou formas indirectas de o fazer “with imaginative covert funding schemes that included oil and other products import licenses, which gave Bronston access to millions of dollars as an importation middle man.”
Já sabíamos que o Google aceita censurar o acesso a páginas incómodas ao regime para pesquisas feitas a partir da China. Agora sabemos que Hollywood está a preparar-se para se vender aos ditadores de Pequim como gigantesca máquina de propaganda e, em troca do respectivo apoio, aceitar as respectivas contrapartidas: em censura. E sabemo-lo porque, obviamente, um artigo como este tem um objectivo, uma origem e um destino.
Pior do que censura: vender a alma ao censor.
Valha-nos Spielberg que se recusou a organizar a cerimónia de arranque dos últimos Jogos Olímpicos devido à repressão no Tibete.
O comentário de Nilson foi o seguinte: “É lamentável, mas julgo não ser preocupante, já que não há nenhuma campanha de censura em curso...”
Talvez graças a este comentário fiquei mais atento ao tema. E já não me refiro ao caso português. No que toca a tendências temos de estar sempre mais atentos à famigerada globalização do que a casos nacionais. E globalmente os sinais não são assim tão desinquietantes.
Notícia 1: o jornalista paquistanês Syed Pervez Kambakhsh viu a sua condenação à morte comutada em vinte anos de prisão. Motivo: blasfémia. A blasfémia: debateu online o artigo duma iraniana residente na Europa. O tema do artigo: a falta de direitos da mulher afegã.
Um exotismo afegão, poderá dizer-se. Mas estamos a falar do mesmo Afeganistão cujo regime é suportado por tropas ocidentais, incluindo portuguesas. Chocou-me ainda a leveza do protesto da organização “Repórteres sem Fronteiras” que se limitou a um singelo pedido ao governo afegão para que altere a lei aplicada à basfémia, isto segundo o “Diário de Notícias” de hoje.
Notícia 2: Geórgia decidiu que já não vai à Eurovisão. A organização exigira que este país nomeasse um novo representante ou apresentasse uma nova canção. A canção: “We don’t wanna put in” dos Stephanie&3G. Um título interpretado (e bem) como sendo uma crítica ao primeiro-ministro russo, Vladimir Putin que, como é sabido, governa um país onde a liberdade de imprensa é cada vez mais aquilo que é. E desta vez nem sequer valeu aos interpretes a forma velada com que abordaram a questão. Os censores de Salazar podiam ser ignorantes e deixar passar Carlos Marques por Karl Marx. Os censores da Eurovisão não padecem da mesma ignorância “put in” é Putin.
E agora um artigo que é mais do que a cereja no topo do bolo: o artigo é de Neal Rosendorf e está publicado na “American Interest” de Março. O título: Popaganda. O subtítulo: What can Hollywood do for (and to) China. O tema: o governo de Pequim está muito triste porque não consegue produzir cinema capaz de promover o país. Uma tristeza que terá evoluído para depressão, após constatarem que Hollywood produziu mais um êxito de bilheteira com a história de animação Kung Fu Panda. Perante este êxito, as autoridades de Pequim questionavam-se sobre o porquê dos chineses não terem eles próprios sido capazes de produzir aquele aquele filme. Um filme que, afinal, é todo ele baseado na iconografia chinesa, a começar pelo próprio panda.
Preocupadas, as autoridades decidiram incumbir um comité de estudar o assunto e apresentar propostas. E o comité chegou a uma conclusão: Pequim deverá diminuir o controle sobre a industria cinematográfica, por forma a permitir uma maior liberdade criativa e, assim, ser capaz de produzir filmes que expandam pelo mundo os valores da cultura chinesa.
Não me vou pronunciar sobre a contradição entre o dirigismo patente no objectivo e a ideia de dar maior liberdade aos cineastas. Independentemente disso, é positivo que um regime fechado como o de Pequim comece a pensar duma forma que se pode resumir no seguinte aforismo: não há criatividade sem liberdade de expressão.
O que me indigna é que Neal Rosendorf, o citado autor do citado artigo, defenda o que aí defendeu.
O que defendeu Neal Rosendorf: que a China não conseguirá utilizar o cinema como máquina de propaganda a menos que incentive a implantação dum estúdio permanente de Hollywood em território chinês. E porquê? Primeiro porque Hollywood sabe fazê-lo melhor do que ninguém. E depois porque a propaganda feita por estrangeiros é mais credível do que a propaganda feita por chineses.
Sórdido é o exemplo que dá: o de Samuel Bronston que entre 1950 e 1964 teve apoio da ditadura de Franco para instalar um estúdio em Madrid. E Neal Rosendorf explica a vantagem: anteriormente o regime franquista tentara apoiar a produção nacional de grandes épicos de pendor nacionalista. Procurava com isso ultrapassar o isolamento internacional e promover os putativos valores espanhóis. Procurar procurava, mas sem êxito: fora de Espanha os filmes eram estrondosos fracassos.
A instalação dos estúdios de Samuel Bronston em Madrid alterou o panorama e grandes produções internacionais passaram a ser feitas em Espanha. Claro que, para isso, submetendo-se à censura do ditador, o que Rosendorf não oculta e, inclusive, dá como exemplo às autoridades chinesas sobre o que poderia ser feito.
Por fim o mais obscuro: Rosendorf alerta para que de forma alguma as autoridades chinesas deverão apoiar directamente este projecto, pois isso desacreditá-lo-ia e, assim, a propaganda não teria efeito. Mas Rosendorf vai lembrando que, se pelas mesma razões, Franco não apoiou directamente Samuel Bronston, arranjou formas indirectas de o fazer “with imaginative covert funding schemes that included oil and other products import licenses, which gave Bronston access to millions of dollars as an importation middle man.”
Já sabíamos que o Google aceita censurar o acesso a páginas incómodas ao regime para pesquisas feitas a partir da China. Agora sabemos que Hollywood está a preparar-se para se vender aos ditadores de Pequim como gigantesca máquina de propaganda e, em troca do respectivo apoio, aceitar as respectivas contrapartidas: em censura. E sabemo-lo porque, obviamente, um artigo como este tem um objectivo, uma origem e um destino.
Pior do que censura: vender a alma ao censor.
Valha-nos Spielberg que se recusou a organizar a cerimónia de arranque dos últimos Jogos Olímpicos devido à repressão no Tibete.
terça-feira, 10 de março de 2009
QUE EU É O EU?*
Neste combate que empreendo.
Corpo-a-corpo sem trégua.
Luta em que vejo o inimigo.
Luta em que o inimigo me vê.
Olhos de raiva, sangue.
Eu combato-o.
Ele combate-me
Eu sei.
Ele sabe.
Sabemos.
Ou eu sobrevirei.
Ou ele sobreviverá.
Não sobreviveremos, ambos.
Combato-o.
Mas ele já não é um.
Combato-os.
Mas ele já não é dois.
É muitos, ele.
É mais e mais.
Sempre mais.
Eu sobrevirei.
Ou um sobreviverá.
Quero vê-los.
Esforço-me por vê-los.
Ou talvez ver-me a mim.
Ver-me pelos olhos deles.
Talvez tudo termine:
se conseguir ver pelos seus olhos,
o eu que eu sou.
Talvez tudo termine:
se conseguirem ver pelos meus olhos,
o eu que eles são.
E esforço-me.
Eles também, talvez.
Olho-os.
Olho-me.
Vejo-os.
Olhos com olhos.
Olhos nos olhos.
Percebo.
Percebo a ilusão:
essa em que estou.
Olho à minha volta.
E eles são mais e mais.
Continuam sempre mais.
Não há saída.
Ou sobrevivo, eu.
Ou sobrevive um, deles.
Vou atirar:
atirar essa primeira pedra.
Levanto o braço.
E eles levantam os braços: todos.
Atiro-a, à pedra.
E eles atiram-mas, às pedras.
Eu baixo-me:
tento evitá-las.
Sei que não sobreviverei.
São tantas ,as pedras:
todas as que todos me atiraram.
Essas que foram contra a que atirei.
São breves ,os instantes.
Sei : o eu deixará de ser.
E aguardo o impacto.
E o impacto não chega.
Pelo menos ao meu corpo.
Mas chega algures: ouço-o
Ouço-o em estilhaçar de cristal.
Surpreendo-me:
“Em estilhaçar de cristal?”
Desfetalizo a posição:
Essa com que aguardava o meu fim:
essa com que aguardei o meu começo.
E já me desfetalizei.
Silêncio:
é do silêncio, meu.
Ponto de exclamação:
é da exclamação, minha.
Partiram-se os espelhos.
Desapareceram, eles:
os outros.
Quem somos?
Quantos somos?
Que eu é o eu?
*Inspirado por "Esta Noite": http://moonhypnose.blogspot.com/2009/03/esta-noite.html
Corpo-a-corpo sem trégua.
Luta em que vejo o inimigo.
Luta em que o inimigo me vê.
Olhos de raiva, sangue.
Eu combato-o.
Ele combate-me
Eu sei.
Ele sabe.
Sabemos.
Ou eu sobrevirei.
Ou ele sobreviverá.
Não sobreviveremos, ambos.
Combato-o.
Mas ele já não é um.
Combato-os.
Mas ele já não é dois.
É muitos, ele.
É mais e mais.
Sempre mais.
Eu sobrevirei.
Ou um sobreviverá.
Quero vê-los.
Esforço-me por vê-los.
Ou talvez ver-me a mim.
Ver-me pelos olhos deles.
Talvez tudo termine:
se conseguir ver pelos seus olhos,
o eu que eu sou.
Talvez tudo termine:
se conseguirem ver pelos meus olhos,
o eu que eles são.
E esforço-me.
Eles também, talvez.
Olho-os.
Olho-me.
Vejo-os.
Olhos com olhos.
Olhos nos olhos.
Percebo.
Percebo a ilusão:
essa em que estou.
Olho à minha volta.
E eles são mais e mais.
Continuam sempre mais.
Não há saída.
Ou sobrevivo, eu.
Ou sobrevive um, deles.
Vou atirar:
atirar essa primeira pedra.
Levanto o braço.
E eles levantam os braços: todos.
Atiro-a, à pedra.
E eles atiram-mas, às pedras.
Eu baixo-me:
tento evitá-las.
Sei que não sobreviverei.
São tantas ,as pedras:
todas as que todos me atiraram.
Essas que foram contra a que atirei.
São breves ,os instantes.
Sei : o eu deixará de ser.
E aguardo o impacto.
E o impacto não chega.
Pelo menos ao meu corpo.
Mas chega algures: ouço-o
Ouço-o em estilhaçar de cristal.
Surpreendo-me:
“Em estilhaçar de cristal?”
Desfetalizo a posição:
Essa com que aguardava o meu fim:
essa com que aguardei o meu começo.
E já me desfetalizei.
Silêncio:
é do silêncio, meu.
Ponto de exclamação:
é da exclamação, minha.
Partiram-se os espelhos.
Desapareceram, eles:
os outros.
Quem somos?
Quantos somos?
Que eu é o eu?
*Inspirado por "Esta Noite": http://moonhypnose.blogspot.com/2009/03/esta-noite.html
segunda-feira, 9 de março de 2009
A CRISE FILOSÓFICA
Crise. Crise. Crise.
A palavra anda por todo o lado. As receitas? Sempre as mesmas: Incentive-se o consumo. Incentive-se o endividamento.
Mas ao mesmo tempo explica-se a crise como tendo origem no consumo não sustentado e no consequente endividamento.
Vamos curar o problema com o mesmo problema?
A crise será económica? Ou os seus reflexos económicos serão um sintoma que não uma causa?
Todas as sociedades têm a sua forma de lidar com os excedentes. Georges Bataille demonstrou-o de forma cativante em “La Parte maudite”.
A originalidade do Capitalismo é talvez uma: utilizar os excessos para produzir mais excessos.
Não será altura de considerar excessivo? Não estaremos perante uma crise filosófica antes de estarmos perante uma crise económica?
Podemos discuti-lo sem que isso seja pôr em causa o nosso tronco cultural. Não é necessário lembrar que historicamente há muito ocidente para lá do capitalismo desenfreado.
Crise. Crise. Crise.
A palavra anda por todo o lado. As receitas? Sempre as mesmas: Incentive-se o consumo. Incentive-se o endividamento.
Mas ao mesmo tempo explica-se a crise como tendo origem no consumo não sustentado e no consequente endividamento.
Vamos curar o problema com o mesmo problema?
A crise será económica? Ou os seus reflexos económicos serão um sintoma que não uma causa?
Todas as sociedades têm a sua forma de lidar com os excedentes. Georges Bataille demonstrou-o de forma cativante em “La Parte maudite”.
A originalidade do Capitalismo é talvez uma: utilizar os excessos para produzir mais excessos.
Não será altura de considerar excessivo? Não estaremos perante uma crise filosófica antes de estarmos perante uma crise económica?
Podemos discuti-lo sem que isso seja pôr em causa o nosso tronco cultural. Não é necessário lembrar que historicamente há muito ocidente para lá do capitalismo desenfreado.
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