Neste combate que empreendo.
Corpo-a-corpo sem trégua.
Luta em que vejo o inimigo.
Luta em que o inimigo me vê.
Olhos de raiva, sangue.
Eu combato-o.
Ele combate-me
Eu sei.
Ele sabe.
Sabemos.
Ou eu sobrevirei.
Ou ele sobreviverá.
Não sobreviveremos, ambos.
Combato-o.
Mas ele já não é um.
Combato-os.
Mas ele já não é dois.
É muitos, ele.
É mais e mais.
Sempre mais.
Eu sobrevirei.
Ou um sobreviverá.
Quero vê-los.
Esforço-me por vê-los.
Ou talvez ver-me a mim.
Ver-me pelos olhos deles.
Talvez tudo termine:
se conseguir ver pelos seus olhos,
o eu que eu sou.
Talvez tudo termine:
se conseguirem ver pelos meus olhos,
o eu que eles são.
E esforço-me.
Eles também, talvez.
Olho-os.
Olho-me.
Vejo-os.
Olhos com olhos.
Olhos nos olhos.
Percebo.
Percebo a ilusão:
essa em que estou.
Olho à minha volta.
E eles são mais e mais.
Continuam sempre mais.
Não há saída.
Ou sobrevivo, eu.
Ou sobrevive um, deles.
Vou atirar:
atirar essa primeira pedra.
Levanto o braço.
E eles levantam os braços: todos.
Atiro-a, à pedra.
E eles atiram-mas, às pedras.
Eu baixo-me:
tento evitá-las.
Sei que não sobreviverei.
São tantas ,as pedras:
todas as que todos me atiraram.
Essas que foram contra a que atirei.
São breves ,os instantes.
Sei : o eu deixará de ser.
E aguardo o impacto.
E o impacto não chega.
Pelo menos ao meu corpo.
Mas chega algures: ouço-o
Ouço-o em estilhaçar de cristal.
Surpreendo-me:
“Em estilhaçar de cristal?”
Desfetalizo a posição:
Essa com que aguardava o meu fim:
essa com que aguardei o meu começo.
E já me desfetalizei.
Silêncio:
é do silêncio, meu.
Ponto de exclamação:
é da exclamação, minha.
Partiram-se os espelhos.
Desapareceram, eles:
os outros.
Quem somos?
Quantos somos?
Que eu é o eu?
*Inspirado por "Esta Noite": http://moonhypnose.blogspot.com/2009/03/esta-noite.html
terça-feira, 10 de março de 2009
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Nem sei que dizer. Está fantástico. Eu escrevi aquilo num daqueles momentos, que eu às vezes tenho, em que tudo parece mais negro e fico mais pessimista. Normalmente é quando eu ando mais cansada fisica e psicologicamente e escrevo o que me sai da alma. É curioso isso, mas tu compreendeste na perfeição o que eu escrevi. Algo que eu julguei que nunca iria aocontecer.
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