O Estado é laico. Ainda bem. A religião não deve interferir nos assuntos de Estado. Ainda bem. Eu e os outros agnósticos deviamos perceber qual é a contrapartida para a laicidade da coisa pública: a religião também fica independente do Estado e o Estado não deve interferir nos assuntos da religião. Deviamos perceber, deviamos.
O Sumo Pontífice dos católicos tem pleno direito de ver as coisas de acordo com a fé que é a sua. Obrigação até, julgo eu. Em alguns aspectos essa visão coincide com a minha. Em alguns aspectos não coincide. Sou-lhe indiferente, na maioria dos aspectos.
No que respeita às tecnologias de contracepção, não sou indiferente. Estou nas antípodas. E tenho esse direito legal: vivo num sistema em que o Estado é laico.
Mas é porque os Estados são Laicos que César não deve interferir naquilo que não é de César. Falo de César ele mesmo: do Estado e dos seus diversificadissimos departamentos. Não falo do cidadão: esse pode meter-se com quem quiser. E se César é laico: César não deve interferir nas questões de fé. Mas interferiu. Está mal. Amanhã alguém da hierarquia católica vai interferir com César. É fatal. Está sempre a acontecer e porque está sempre a acontecer: acontecerá. E César vai queixar-se. E terá razão em queixar-se.
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