quarta-feira, 13 de maio de 2009

A casa de brincar.

Aquele espaço era um espaço para crianças. Era um espaço para ensinar. Mas era também um espaço para brincar. Aquele espaço estava dividido em várias áreas: cada uma destinava-se a uma diferente actividade. Numa dessas áreas: há um estaleiro: obras. É um estaleiro a brincar de obras a brincar: os tijolos são em esponja e servem para preencher as paredes da casa e o guindaste tem uma manivela que serve para que as crianças façam subir aqueles tijolos de brincar até ao piso de cima daquela obra de brincar.

As crianças. As crianças são umas duas dezenas. Algumas têm quatro anos e outras têm cinco e outras têm seis.

A obra é um caos. Aparente: aparentemente ninguém coordena o trabalho a fingir daquelas crianças. Mas não. Uma criança dá freneticamente à manivela do guindaste: faz subir tijolos em esponja que outros receberão e outros colocarão. Ninguém coordena as crianças. Ninguém. Mas os tijolos continuam a ser colocados no guindaste e a subir à plataforma e a ser retirados e a ser depois colocados nas paredes da casa.

Uma harmonia.

De vez em quando há disputas:

-“Quem dá à manivela sou eu!”
Ou:

-“Estes tijolos são meus!”

E das disputas sai sempre um resultado: ou continua quem estava ou fica quem entra. E a máquina continua a funcionar. A manivela roda independentemente de quem a roda. Os tijolos são colocados nas paredes independentemente de quem os coloca.

Saberão as crianças? Saberão as que disputam a manivela? Saberão as que disputam os tijolos? Saberão que tudo funciona independentemente de quem faz funcionar?

Algumas crianças parecem fora desta harmonia. Vagueiam por aquele estaleiro de brincadeira. Pegam nos tijolos de borracha tão só para os atirar ao ar. Quem serão estas crianças? Serão as desinseridas? Ou serão as únicas que sabem?
A máquina funciona independentemente de quem a faz funcionar.

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