Aquele fenómeno foi um fenómeno nunca visto. Já tinham ocorrido fenómenos um bocado semelhantes. Mas apenas um bocado. E há que considerar que semelhante já é uma palavra sem sentido absoluto. É por isso que “semelhante” existe. Se assim não fora teríamos apenas o “igual” e o “cem por cento”. Igual para ser usado pelos poetas. Cem por cento para ser usado pelos matemáticos, pelos cientistas.
Mas o fenómeno que é este fenómeno nunca tinha acontecido. A única coisa que já ocorrera fora algo de um bocado parecido. E note-se que parecido é igual a semelhante. E se é a palavra que agora se usa é tão só para obedecer às regras da estética da língua que é esta língua: não ser repetitivo. Não ser repetitivo no que se diz. Não ser repetitivo no que se pensa. Não ser repetitivo nas palavras. Sobretudo isso: não ser repetitivo. Jamais ser repetitivo.
E era isso mesmo que este fenómeno não era: repetitivo. Nunca acontecera. E como nunca acontecera não podia sê-lo: repetitivo.
É certo que já haviam ocorrido movimentações. Movimentações de povos e culturas e civilizações. Isso já. Mas isto não: isto desta forma nunca acontecera. As movimentações levaram a instalações e a destruições. Os romanos fizeram isso: movimentaram-se e instalaram-se e destruíram o que estava. E os bárbaros: movimentaram-se e instalaram-se e destruíram o que estava. E os Zulus: movimentaram-se e instalaram-se e destruíram o que estava. E os Incas e os Maias e os caucasianos em geral: sobretudo os caucasianos em geral. Todos. Todos sem excepção. Todos se movimentaram e instalaram e destruíram o que estava.
Mas isto? Isto não. Isto nunca acontecera. E ninguém sabe explicar uma explicação para o porquê disto. Até porque isto aconteceu duma forma que ninguém esperava. Não foram os Estados que combinaram. Não foram os partidos que combinaram. Não foram Organizações Não Governamentais que combinaram. Nada! Nada mesmo. Absolutamente nada foi combinado.
Foi tudo repentino e sem planeamento. Mas aconteceu como se fosse tudo previsto e planeado. De repente. De repente as pessoas começaram a deslocar-se. E não foram as pessoas, pessoas. Foram as pessoas: países. Foram as pessoas: culturas. Foram as pessoas: civilizações. Todas. Todas começaram a deslocar-se. E sninguém consegue explicar uma explicação. E se ninguém consegue explicar uma explicação: é porque tudo foi espontâneo.
Espontâneo e repentino. Repentinamente. Repentinamente deixou de haver espanhóis em Espanha. Repentinamente deixou de haver portugueses em Portugal. E americanos na América e russos na Rússia e franceses na França e ingleses na Inglaterra, nem mesmo Sua Magestade. Todos os povos: de repente todos os povos deixaram de existir no território que até aí fora o território desses povos.
Desapareceram? Foram destruídos por outros que se movimentaram e instalaram? Não. E isso é o mais estranho. Os espanhóis, por exemplo: os espanhóis espalharam-se por todos os territórios excepto pelo território chamado Espanha. E os portugueses por todos os territórios excepto pelo território chamado Portugal. E os americanos e os chineses e os franceses e os indianos e os ingleses, até Sua Magestade que agora ocupa um apartamento de três assoalhadas no território conhecido como Tibete.
O que terá provocado isto? Ninguém sabe. Foi algo de tão espontâneo como espontâneo é o fetiche sexual dos salmões e das enguias e das andorinhas e das cegonhas. E porque foi assim espontâneo: os sociólogos não conseguem explicar o fenómeno. Talvez haja uma necessidade de mudança na espécie. Talvez. Talvez uma necessidade que ocorra em cada quarenta mil anos. Talvez. E talvez um dia os sociólogos sejam capazes de ter tudo muito bem estudado. Tudo sob uma matriz: uma explicação cabal: racional: científica. Talvez demorem anos. Talvez outros quarenta mil anos para descobrirem essa descoberta. E quando descobrirem: talvez outro fenómeno ocorra. Não este. Outro qualquer. Outro que venha a ser um fenómeno até aí nunca visto. Um fenómeno que venha a ser um bocado semelhante a outros fenómenos até aí entretanto ocorridos. E há que considerar que "semelhante" já é uma palavra sem sentido absoluto. E nesse dia os sociólogos ficarão novamente sem resposta.
Talvez seja isso. Talvez a espécie queira ser o que é: uma espécie. Nada para além duma espécie.
Mas o fenómeno que é este fenómeno nunca tinha acontecido. A única coisa que já ocorrera fora algo de um bocado parecido. E note-se que parecido é igual a semelhante. E se é a palavra que agora se usa é tão só para obedecer às regras da estética da língua que é esta língua: não ser repetitivo. Não ser repetitivo no que se diz. Não ser repetitivo no que se pensa. Não ser repetitivo nas palavras. Sobretudo isso: não ser repetitivo. Jamais ser repetitivo.
E era isso mesmo que este fenómeno não era: repetitivo. Nunca acontecera. E como nunca acontecera não podia sê-lo: repetitivo.
É certo que já haviam ocorrido movimentações. Movimentações de povos e culturas e civilizações. Isso já. Mas isto não: isto desta forma nunca acontecera. As movimentações levaram a instalações e a destruições. Os romanos fizeram isso: movimentaram-se e instalaram-se e destruíram o que estava. E os bárbaros: movimentaram-se e instalaram-se e destruíram o que estava. E os Zulus: movimentaram-se e instalaram-se e destruíram o que estava. E os Incas e os Maias e os caucasianos em geral: sobretudo os caucasianos em geral. Todos. Todos sem excepção. Todos se movimentaram e instalaram e destruíram o que estava.
Mas isto? Isto não. Isto nunca acontecera. E ninguém sabe explicar uma explicação para o porquê disto. Até porque isto aconteceu duma forma que ninguém esperava. Não foram os Estados que combinaram. Não foram os partidos que combinaram. Não foram Organizações Não Governamentais que combinaram. Nada! Nada mesmo. Absolutamente nada foi combinado.
Foi tudo repentino e sem planeamento. Mas aconteceu como se fosse tudo previsto e planeado. De repente. De repente as pessoas começaram a deslocar-se. E não foram as pessoas, pessoas. Foram as pessoas: países. Foram as pessoas: culturas. Foram as pessoas: civilizações. Todas. Todas começaram a deslocar-se. E sninguém consegue explicar uma explicação. E se ninguém consegue explicar uma explicação: é porque tudo foi espontâneo.
Espontâneo e repentino. Repentinamente. Repentinamente deixou de haver espanhóis em Espanha. Repentinamente deixou de haver portugueses em Portugal. E americanos na América e russos na Rússia e franceses na França e ingleses na Inglaterra, nem mesmo Sua Magestade. Todos os povos: de repente todos os povos deixaram de existir no território que até aí fora o território desses povos.
Desapareceram? Foram destruídos por outros que se movimentaram e instalaram? Não. E isso é o mais estranho. Os espanhóis, por exemplo: os espanhóis espalharam-se por todos os territórios excepto pelo território chamado Espanha. E os portugueses por todos os territórios excepto pelo território chamado Portugal. E os americanos e os chineses e os franceses e os indianos e os ingleses, até Sua Magestade que agora ocupa um apartamento de três assoalhadas no território conhecido como Tibete.
O que terá provocado isto? Ninguém sabe. Foi algo de tão espontâneo como espontâneo é o fetiche sexual dos salmões e das enguias e das andorinhas e das cegonhas. E porque foi assim espontâneo: os sociólogos não conseguem explicar o fenómeno. Talvez haja uma necessidade de mudança na espécie. Talvez. Talvez uma necessidade que ocorra em cada quarenta mil anos. Talvez. E talvez um dia os sociólogos sejam capazes de ter tudo muito bem estudado. Tudo sob uma matriz: uma explicação cabal: racional: científica. Talvez demorem anos. Talvez outros quarenta mil anos para descobrirem essa descoberta. E quando descobrirem: talvez outro fenómeno ocorra. Não este. Outro qualquer. Outro que venha a ser um fenómeno até aí nunca visto. Um fenómeno que venha a ser um bocado semelhante a outros fenómenos até aí entretanto ocorridos. E há que considerar que "semelhante" já é uma palavra sem sentido absoluto. E nesse dia os sociólogos ficarão novamente sem resposta.
Talvez seja isso. Talvez a espécie queira ser o que é: uma espécie. Nada para além duma espécie.
Talvez... talvez o fenómeno seja esse mesmo e não outro qualquer "semelhante" a esse.
ResponderEliminarInteressante -o texto. Gostei muito. Obgda pela visita ao meu mundo. Um bj.
Obrigado, Jacinta.
ResponderEliminarVolta sempre.
Luís