quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Nem admira o Estado a que isto chegou


Tantas são as cobras e não menos os lagartos que andam por aí a soltar-se contra essa besta gorda que se diz Estado, que decidi andar em busca das fontes da sua voracidade. Consultei alguns entendidos, consultores de horas vagas, e de pronto me disseram que se era para decepar que se decepasse na saúde, que essa é uma autêntica desgraça despesista, mais do que uma pipa de desperdício.
Armei-me de lupa e fui em busca. Já tinha a minha estratégia toda muito bem montada: pegar no ágil campeão do anti-Estado e compará-lo com esse gordo e flácido que é o que se diz nosso. “Deixa estar que já te apanho”.
Fiquei a saber, nada mais e nada menos, que em 2008 cada americano gastava com a sua rica saúde 5.988 euros, contra os 1.957 de cada português, ainda que a despesa do português corresse sobretudo por conta desse tal pançudo, o Estado. Qualquer coisa como 15,6% do bruto produto deles e apenas 9,5% do nosso.
Que ricos meninos, eles, com uma despezinha destas deverão ter uma saúde de leão. Quanto a nós, coitaditos, deveremos andar a pedir valhas a Deus.
Nem pude acreditar na surpresa que me estava reservada: morremos menos, nós, caramba! Numa conta a que se chama a média, aqui os tugas vivem  até aos 79 anos com quatro meses e eles apenas 78 com mais dois mesitos. Somos os vigésimos que menos morrem e eles os trigésimos oitavos, que até o inimigo cubano lhes fica acima.
Não me deixei enganar por uma aparência que só poderia ser enganosa, uma armadilha da estatística que é por essas e por outras que nunca confiei muito em Pitágoras. De tanto pensar, o meu eureka surgiu bem postulado: hábitos de pobre meu caro, hábitos de pobre; não há comidinha mais saudável do que a dos pobrezinhos, já lá dizia o meu médico, “coma sopa, homem, você coma-me sopinha”. Deixa estar, que eu já descubro a careca a isto tudo.
Foi com fito nisto que fui à cata daquele grupo a quem as maioneses e molhangas afins ainda não tiveram tempo, nem para entupir veias, nem para engordurar outros sistemas vitais: as crianças, mas aquelas que são mesmo muito criancinhas, nada mais do que até 5 aninhos. Procurei e… mais uma surpresa, que com esta eu já estava quase a agradecer ao quarto joanino pela lusa encomenda à Senhora da Conceição. Pois não é que nos morrem 6,6 em mil contra a 7,8 a eles. Atenção que não é caso para menos do que benzedura: estamos no lugar 26 e eles no 33 (e Cuba em 28)!
Caramba que até impressiona: uma miséria de 1.957 por cidadão e estamos muitos pontos acima desses ricos parentes afastados, que gastam à tripa forra, mais do que o triplo, esses tais que são aqueles de quem se diz serem a maior potência económica de todo o planeta sem exceção, os que têm as melhores bombas de que há memória passada e presente.
Olá, olá, que podemos não ser o país que melhor bombardeia o semelhante, mas somos um dos que melhor cuida dos seus.
Foi então que, assim como uma luz, pensei que talvez o pecado fosse outro. Talvez nos andemos a render anos de vida, em vez de lucros aos acionistas. Não percebemos nada de economia, nós. Não admira o estado a que isto chegou.
 
Luís Novais

Foto: Stock.XCHNG

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