Vitor Gaspar |
“Efetivamente, eu seria de
opinião que num mundo ideal teria sido possível realizar progressos mais
rapidamente do que conseguimos”. Em entrevista à SIC e sem pestanejar foi com
estas palavras que o Ministro das Finanças respondeu a José Gomes Ferreira, a
propósito dos atrasos na renegociação das Parcerias Publico Privados (PPP). Perante
a insistência do entrevistador, Vítor Gaspar diria ainda que “queremos
conseguir os resultados tão cedo quanto possível, mas não foi possível avançar
mais depressa”.
Proferidas com a maior das displicências,
estas afirmações são uma clara declaração da rendição do Estado. Isto na melhor
das hipóteses, que na pior são a prova da total subserviência dos governantes perante o grande poder económico.
Seguem-se outras pérolas idênticas. Os
monopólios energéticos deveriam usar a poupança na Taxa Social Única (TSU) para
baixar os custos da energia, vai obrigá-los a isso? A resposta: não compete ao
Estado, mas o poder da opinião é muito forte…
Fica claro que em nada se vai mexer.
Num caso, o das PPP, enreda-se o assunto em negociações que se complicam o mais
possível para criar a aparência de que se faz sem que se faça. Noutro caso, o
do custos energéticos, apela-se a que os portugueses opinem…
Houvesse verdadeira vontade e
coragem políticas e um caso como o outro teriam resolução automática. Em vez do
Estado se enredar numa negociação infindável, por que não faz aos detentores
das PPP’s o mesmo que faz aos cidadãos? Por que não lhes cria um imposto? Um pagamento
especial sobre os rendimentos destas parcerias resolveria tudo no mesmo tempo
que demora a inserir mais um artigo no Orçamento Geral do Estado. E o mesmo
para os custos energéticos: um imposto de 100% sobre toda a faturação superior
à média europeia.
Se os grandes beneficiários dos deficits de Portugal
fossem tratados como são tratados os portugueses, o Ministro das Finanças não diria
que “num mundo ideal teria sido possível realizar progressos mais rapidamente”
na renegociação das PPP. Eu nem peço um mundo ideal. Para usar uma expressão da
moda, só peço um mundo mais equitativo. E num mundo mais equitativo, o Estado
iria buscar a estas empresas pelo mesmo processo célere e eficaz com que vai
buscar aos cidadãos: pela via fiscal, com a criação dum imposto especial,
ou, melhor dito, de uma taxa.
Luís Novais
Luís Novais
Concordo plenamente.
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