Aos governantes exige-se que consigam ver o país no seu todo. E que façam contas, já não digo de merceeiro, porque esses têm a loja limpa: Sabem que há centros de custo que significam receitas indiretas.
Na privatização da TAP não há nada que não me indigne: a falta de entendimento
da sua importância estratégica, a pressa com que um governo de
gestão fechou o dossiê, o preço de saldo, o risco financeiro que o Estado
continuou a assumir, a falência técnica do comprador e até a suave contestação do
PS… Fiquemos por aqui, que o mais grave foi o desprezo absoluto pelos
interesses estratégicos do país.
Imagine-se o futuro duma empresa cuja administração decida ter apenas
produção e vendas, já que o resto é despesa. Rapidamente se
desintegraria a relação com a comunidade envolvente, com as famílias dos seus
trabalhadores, não teria formação, marketing, investigação, segurança no
trabalho, planos de carreira, limpeza das instalações… Está imaginado? Não é
preciso perguntar pelo futuro dessa empresa.
Uma organização não é um conjunto de partes disfuncionais, mas uma soma em
que todos contribuem para objetivos centrais. Numa
empresa, isso reflete-se em ter centros que são de custo e de receita, junto com outros que são apenas de custo, mas indiretamente essenciais à receita.
Surpreende-me que isto seja menos óbvio para governantes do que para o
gestor duma simples PME.
De entre os reptos que Portugal enfrenta, um dos mais importantes é transformar a sua periferização numa nova centralidade. Pela nossa situação
geográfica poderíamos ser e não somos o ponto fulcral do ocidente. Pela nossa história,
o ponto de encontro de diferentes culturas que tão pouco estamos a ser.
Para isso, é essencial ter uma companhia aérea que seja agente destes interesses estratégicos. Quando mencionamos a TAP, falamos apenas
do maior exportador português, e não é qualquer tipo de exportação: É uma empresa
que transporta turismo, negócios e cultura para o país. Quantos investimentos
se sentam nos bancos desses aviões? Quanto consumo no comércio e serviços? Quanta
diversidade cultural?
Por mim, a TAP pode dar prejuízo; defendo que dê muito mais. É essencial
ter voos diretos para Pequim e Macau, para a Índia, para vários países da
América Latina, para todas as capitais da União Europeia, Moscovo, Tóquio... São
voos que significam perdas diretas, e é por isso que os privados jamais os farão.
Mas são voos que garantem grandes resultados a um Portugal que precisa de
aproveitar a sua posição geográfica, para ser central como poderia, em vez de
periférico como é. E isso é dinheiro em caixa, se mais não fosse.
Aos governantes exige-se que consigam ver o país no seu todo. E que façam
contas, já não digo de merceeiro, porque esses têm a loja limpa: Sabem que há
centros de custo que significam receitas indiretas.
Luís Novais
Concordo consigo, há coisas que não deviam ser privatizadas. Tal como a TAP, a EDP, os CTT e outros serviços que dão, pelo menos, lucro social. E algumas empresas até davam lucros financeiros chorudos, caso da PETROGAL...
ResponderEliminarCaro Luís, tenha um bom fim de semana.
Abraço.