Livres dos axiomas liberais,
esperava que o Bloco de Esquerda fosse capaz de obrigar um PS ideologicamente
esquizofrénico, a reencontrar a sua raiz política. Precisamos
de mais e não de menos Estado, precisamos que a política tenha preponderância
sobre a economia, precisamos que a ágora se sobreponha ao mercado. Para o altar bastou-nos Isabel, não precisamos duma Catarina.
Consta que Isabel dava pão aos pobres, coisa que a Dinis não agradava, tão
zeloso era de suas riquezas conservar. O resto já sabemos: “Rosas são
senhor”, espécie de anti milagre que transformou o que era útil ao estomago dos
que o têm vazio, em algo apenas prazenteiro à vista dos que fruem de preocupações muito mais sublimes do que o
almoço do dia seguinte.
Caridosa e meritória, Isabel foi elevada ao altar e ficou com história para
ser contada, mas não consta que tenha mudado o seu tempo rumo a uma sociedade
mais justa.
Nesta diferença entre caridade e reforma social, está a distância que deve separar o Estado moderno, dum cidadão isolado; uma santa dum político.
Tantas foram as revelações dos transvios económicos das últimas décadas,
que deveria ser impossível nada aprender com tudo o que agora sabemos. No caso português,
basta citar alguns nomes que antes eram marcas inexpugnáveis, umas, e ascendentes,
outras: BES, PT, BPN, BPP… E já nos estão a preparar para mais.
No estrangeiro poderíamos dar outros tantos exemplos que atestam quanto o descontrole
da ganância pode destruir valor: Madoof, Lehman Brothers e, mais recentemente,
Volkswagen.
O desafio político dos nossos dias, está em encontrar um novo equilíbrio: Entre
iniciativa privada e controle estatal; entre sector público e sector privado;
entre intervenção do Estado e liberdade do indivíduo; entre harmonia social e
ambição pessoal.
Tão distante que está dos axiomas liberais, esperava que o Bloco de
Esquerda fosse capaz de obrigar um PS ideologicamente esquizofrénico, a reencontrar a sua raiz política. Precisamos de mais e
não de menos Estado, precisamos que a política tenha preponderância sobre a
economia, precisamos que a ágora se sobreponha ao mercado.
Sei que o acordo entre os dois partidos não está finalizado. Reconheço que
este comentário é guiado apenas pelo que vai saindo na imprensa e por alguma informação
que fontes amigas me vão passando. Se tudo aquilo que se tem sabido é verdade,
então não estamos perante uma negociação política na verdadeira aceção, mas face a uma
distribuição de pães, eventualmente regada com algumas sinecuras para
militantes.
Mais um ou menos um ponto de aumento nas pensões, descongelamentos, reposição
salarial a um ritmo menos lento. Isto é querer mudar efeitos sem mudar causas.
Não é política, é populismo quase à moda de Portas quando era Paulinho e das
feiras.
Por esta a via, têm razão os que adivinham dilúvios desperdiçadores dos
sacrifícios que foram feitos.
Resta-me a esperança de que o PCP não abdique de ter um papel político e
não aceite ficar por este bodo aos pobres.
Para o altar bastou-nos Isabel, não precisamos duma Catarina.
Luis Novais
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