terça-feira, 14 de julho de 2015

NÃO VIEMOS AQUI PARA CANTAR...

Quem tem idade e memória lembra-se de sucessivas vitórias olímpicas obtidas pelas equipas femininas da ex-Alemanha de leste. Todas as atletas se caracterizavam por um porte físico imponente e, as poucas vezes que falavam, saia-lhes uma entoação denunciadora do cocktail hormonal com que se transformavam em máquinas de competir. Em boa verdade, eram quase homens a concorrer com mulheres. “Não viemos aqui para cantar”, terá respondido em Montreal uma treinadora, quando um jornalista mais atrevido lhe perguntou por que tinham a voz tão grossa.

Habituados que já estamos a viver com uma Alemanha unificada, esquecemo-nos que houve uma geração educada nesta metáfora: o sublime sacrifício individual, a suprema disciplina, a tenacidade de quem tem de alcançar uma meta custe o que custar.

Acresce que esses mesmos alemães não desenvolveram a tolerância e o respeito pelo outro que são exigidos pela convivência democrática. Simplesmente, não conheceram a Democracia.

Se a tudo isto juntarmos que não receberam do conquistador soviético a mesma complacência e flexibilidade que tiveram os de ocidente, temos o ingrediente que faltava para entendermos o que de outra forma seria difícil: a criação dum sentimento de ajuste de contas com a História. Alguns terão mesmo desenvolvido um novo síndrome de Versalhes.

É fruto da tenacidade com que os criaram, que alguns de entre eles estão a chegar democraticamente a um modelo de poder que não conseguem entender.

Disciplina, falta de formação democrática, supremo sacrifício, tenacidade e ajuste de contas. Talvez isto nos ajude a explicar o momento atual, transfigurado em Angela Merkel.


Nem tudo está perdido. Aparentemente, continua a ser o mesmo país que ofereceu à Europa e ao mundo a bonomia do saudoso Khol.

Luís Novais