terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

FADO DUM ATLÂNTIDO











Terra que m’oprime,
mar que me liberta.
Ocidental mar,
oriental terra.
Dêem-me mar,
desse que salguei.
Desenterrem-me
d'onde me salgam.
Eu sou da terra total.
Sou verso sem rima:
sem nada que me oprima.
Sou poema sem métrica:
sem nada que me prenda.
Sou mundo,
não m’amarrem,
qu’amarrado me morro.
Dêem-me telas, muitas.
Mas telas sem molduras,
dessas que são velas
qu’ao mundo me levam.
Não m’imponham regras
os homens do norte,
que criar é meu destino,
desregrar é meu saber.
Dêem-me lugares distantes,
p’ra onde eu navegue.
Da cercania serei,
em inverso caminho
do redondo que piso.
Sou mais preto que branco.
Sou mais branco que preto.
A um mundo mundo levo,
a outro mundo mundo trago.
Sou árabe e sou judeu,
ameríndio e chinês,
sou até europeu.
Eu sou português.
Sou português. Sou português.


Luís Novais




2 comentários:

  1. Olá amigo Novais. Já Tinha ouvido falar do teu primeiro romance, mas ainda não tive oportunidade de ler. Fiquei curioso e impressionado com as críticas. Quando uns dizem muito bem e outros muito mal, geralmente é porque a coisa saíu bem. Vou ver se consigo arranjar o livro aqui por Moçambique para ler e prometo que cá passarei a deixar comentário.

    um abraço,

    Henrique Assunção

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