Vamos escolher entre três candidatos paroquiais. O previsível eleito é a metáfora perfeita do pároco de aldeia, que
ninguém conhece a uma légua do seu campanário, mas batizou quase todos os
fregueses, não é muito exigente nas absolvições e, sublinhe-se, faz umas
homilias semanais tão comoventes que as beatas até choram emocionadas.
Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém. A menos que
nosso senhor desça à terra e troque as voltas à contabilidade eleitoral, coisa
que aparentemente já aconteceu, é deste trio que sairá o próximo presidente da
república.
Independentemente das divergências ideológicas, que não são muitas, há uma
linha que une estes candidatos: Ou nunca fizeram política, ou são políticos
de segunda linha, que jamais ocuparam um cargo cimeiro na hierarquia do Estado.
Todos são sobejamente conhecidos em Portugal, mas completamente ignorados fora
da nossa pequena fronteira.
Guterres e Barroso puseram-se de fora. Barroso foi sucessivamente ministro dos negócios
estrangeiros, primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia por dois
mandatos. Guterres foi primeiro-ministro e alto comissário das Nações Unidas
para os refugiados. Nenhum dos dois quis chegar a ser o mais alto magistrado da
nação.
O reconhecimento externo, cimentado numa sólida carreira política nacional
e, de preferência, multilateral, é um importante valor acrescentado que o
presidente da república pode dar ao país. Pela ordem natural, teríamos em janeiro um confronto entre estes dois pesos
pesados. Mas não: teremos aqueles que temos, que foram os únicos disponíveis para
ir à liça.
Vamos escolher entre três candidatos paroquiais. O previsível eleito
é a metáfora perfeita do pároco de aldeia, que ninguém conhece a uma légua do
seu campanário, mas batizou quase todos os fregueses, não é muito exigente nas
absolvições e, sublinhe-se, faz umas homilias semanais tão comoventes que as beatas até choram emocionadas. “Diz umas coisas tão bonitas, o senhor abade”, na
voz apiedada de uma delas.
Em vez dum presidente, vamos eleger um arcipreste. Os políticos emigraram e
isso mostra bem quão desinteressante está o país. Ficaram-nos estes; é o que
temos.
Nota final: Paroquiadas à parte, estava convencido a votar Sampaio da Nóvoa se o PàF formasse governo. António Costa trocou-me as voltas e
agora tenho quase certo que votarei Marcelo. É a velha história dos ovos e dos
cestos.
Luís Novais
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