Em vários debates defendi Mário
Centeno durante a prolongada polémica que ocorreu em
torno da isenção aos administradores da Caixa. Cheguei a escrever a um amigo, deputado do PSD, reclamando do que me parecia um exagero quase farisaico.
Depois veio o depois. Primeiro, a diferença entre a data de aprovação e a publicação do famoso decreto. Aí comecei
a duvidar, mas aquelas explicações de António Costa deixaram-me aquém da dúvida
razoável. A plena deceção aconteceu neste último episódio, o das
mensagens entre o Ministro e o indigitado presidente do banco público.
Nestas circunstâncias
já não é possível defender Centeno. Aceitar que "mentiu mas teve resultados", é uma versão quase
direta do célebre “rouba mas faz obra”. A polis não pode consentir estes “mas” relativamente àqueles que a governam.
Alguns amigos argumentam-me que
os SMS são mensagens privadas. Curiosamente, nesse mesmo dia rejubilei com a
demissão de Michael Flynn, o inenarrável conselheiro de segurança do inenarrável
presidente Trump. Nem o mais clownesco sucessor de George Washington conseguiu
segurar um colaborador que oficialmente mentiu, tampouco tentou esticar a corda ao ponto de
dizer que as conversas telefónicas são privadas. Todos, até os mais altos responsáveis
políticos, têm direito a uma vida pessoal, desde e quando esta não interfira
com as funções públicas e, sobretudo, desde e quando não procurem transformar em
privado aquilo que é político.
Mário Centeno caiu na ratoeira
que a si mesmo armou: Mentiu e, pior, mentiu ao parlamento. Desconfio até que o
presidente Marcelo já tinha conhecimento da existência destas mensagens; tenho dúvidas se as certeiras declarações sobre a inexistência de prova escrita não foram
parte dum drama cujo climax acaba de se tornar público.
Qualquer país é constituído por
um corpo de cidadãos com várias funções. A maioria não se dedica à política orgânica,
uns porque não sentem vocação, outros porque têm consciência das suas
fragilidades. Todos temos o direito de exigir mínimos a um político: Que não se
aproprie de bens públicos, que não minta… numa palavra: Honestidade, a honestidade
tem de ser a essência da gestão pública. Quem falha aí, falha em tudo. E é
perante esta falha que se torna incompreensível a posição da maioria
parlamentar, que recorreu a meros argumentos regimentais para inviabilizar uma análise destas mensagens.
Mário Centeno é, hoje, um
político sem credibilidade, um ministro no qual já não se pode confiar. Os
resultados da política financeira deste governo podem ou poderiam até ser bons
(eu creio que apenas não são maus, pois seguem uma tendência que já vinha do
passado), os resultados sociais podem ser bons (aqui estou de acordo). Mas, se
a base do sucesso financeiro dum país é a sua credibilidade, quanta resta ao
ainda ministro das finanças?
“Mente mas faz obra”, a segunda
afirmação está negada pela primeira.
Luís Novais
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