Vejo pelas ruas
um poeta que chora.
Chora para não chorar.
Pena da humanidade,
para destino seu não penar.
Chora não chorando.
Damos tanto pela pouca matéria,
nada pelo muito espírito.
A matéria que a vista alcança
pelo espírito que tudo pensa.
Nem do aprendido já, aprendido fazemos:
Que do menos que nas coisas há, nada mais se retira.
E investimos, como loucos investimos,
para chegar ao muito que há,
partido do não havido.
Impossível entender o que É, e que é,
com o que não sendo, apenas é.
Um, É.
Outro, está.
O que está não alcança o que É,
o que É, o que está é também.
Destruam a helvética e franca máquina; essa mesma!
Processem-na por inútil.
Quebrem-na com a raiva
do constatado erro; vosso.
O que está em pensamento,
só com pensamento se alcança.
Da ciência façam poesia,
da poesia, ciência.
E já lá vai o poeta,
vai de pijama pela rua,
aquele com bolinhas azuis,
esse que veste para sonhar.
E sonhando, à particula chegou.
Mas porque de pijama, ninguém o escuta.
Tampouco a ninguém se dirige.
Não tem tempo: encontrou.
Tivesse ele uma bata branca...
mas não sonharia, caramba!
E não sonhando não acharia.
É por isso que apenas segue,
sabendo sem ser ouvido.
Segue para não parar,
vestido com o que veste,
chorando para não chorar.
Luís Novais
domingo, 23 de abril de 2017
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Muito bem! Gosto. Mais adiante comentarei. Continua Novais!
ResponderEliminarObrigado, Rosário. Cá te espero.
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