Não surpreende, trata-se da fiel representação do
país que Trump tem: O melhor do mundo a destruir e matar, mas dos piores a cuidar a saúde dos seus próprios cidadãos, esta sim uma real e também química guerra civil.
Enquanto a Síria era
bombardeada por Donald Trump, decorria em Lima a VIII Cimeira das Américas. A participação do presidente
norte-americano estava confirmada, tanto que, em fevereiro, mandou ao Peru o
secretário de estado Rex Tillerson a reunir-se com o então presidente Pedro
Pablo Kucksinsky (PPK), para transmitir ordens expressas sobre esta cimeira.
Só quem acredite em coincidências
e seja completamente surdo ao que dizem as fontes peruanas ligadas a este
processo, pode considerar ter sido uma coincidência que, apenas 11 dias depois,
PPK convocasse os ministros dos Negócios Estrangeiros de 13 países do
intitulado “Grupo de Lima” que, entre outros, inclui Argentina, o Brasil de
Temer, Canadá, Chile, Paraguay Santa Lucia e… esse modelo de Democracia que se
chama Honduras. Na agenda, um ponto único: Retirar a Nicolás Maduro o convite para
que participe na Cimeira das Américas.
Quem acompanhou o evento
sabe da polémica nos bastidores e que PPK não
conseguiu o que pretendia, ficando no final com uma mera declaração de respeito pela sua decisão (ver
aqui). Apesar disso, foi prémio de consolação suficiente para que retirasse o convite já antes enviado ao ditador venezuelano. Num entusiasmo
trumpiano, o anúncio fez-se pelo Twiter.
A cronologia mostra descaradamente
aquilo que as fontes do palácio de governo peruano afirmam: Donald Trump
colocou como condição para a sua vinda que Nicolás Maduro não estivesse
presente. Vejamos: Primeiro, o Peru fez o convite ao venezuelano, depois
recebeu o secretário de estado Rex Tillerson para falar sobre a cimeira, em seguida convoca para Lima os
ministros dos negócios estrangeiros de 13 países americanos, por fim o convite a
Maduro é dado por não dado. Só depois deste processo, no dia 9 de março, o
presidente norte-americano confirmaria a sua participação.
A ironia disto tudo, são
as voltas que a história dá. Maduro, que foi convidado, depois desconvidado e
que afirmou continuadamente que viria e viria, não veio. Pedro Pablo Kucksinsky,
que convidou, depois desconvidou e que, claro, estaria e estaria, tampouco esteve, forçado entretanto a
renunciar para não ser demitido no parlamento: Consultoras suas com sede nos
EUA prestavam serviços milionários à construtora Odebrecht, enquanto era primeiro-ministro e
adjudicava milhares de milhões à mesma empresa brasileira. Por último, também
Trump, que confirmou e confirmou, afinal falhou, empenhado que se empenhou no bombardeamento da Síria.
Ironias à parte, este
caso mostra bem de que lado da história está o presidente dos EUA. A cimeira
das Américas foi criada em 1994 para
fomentar o diálogo entre os países do grande continente. Apesar de todas as
deficiências inerentes a este tipo de reunião, trata-se dum espaço de
confronto pacífico, de diálogo e de procura de consensos. Trump, essa egocêntrica
Super Star, não quis partilhar o palco com Nicolás Maduro, um igualmente egocêntrico
mas artista de rua. Por fim, a “grande estrela” não quis vir: Ficar e matar
noutras bandas, foi um apelo irresistível frente à alternativa de vir e dialogar
no seu continente.
Não surpreende, trata-se da
fiel representação do país que Trump tem: O melhor do mundo a destruir e matar, mas dos
piores a cuidar a saúde aos seus próprios cidadãos, esta sim uma real e
também química guerra civil.
Um aparte final para
dizer que, quanto às causas diretas do bombardeamento, não me convencem. Enganaram-me
uma vez, e bem enganado, no filme Iraque-2003, quando acreditei e apoiei. Depois
disso, jurei a mim mesmo que só com muita prova… E refiro-me apenas às causas
diretas, porque aos verdadeiros motivos já os dou de barato: Ali não há nada de
humanitário, basta ver a geopolítica e os ouvidos de mercador aos crimes
cometidos pelo vizinho do lado.
Luís Novais
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