Curiosos, os caminhos das releituras e das nossas evoluções analíticas. Li "História do Cerco de Lisboa" quando Saramago o publicou em 1989; já então e há muito lera também "A Ilustre Casa de Ramires", de Eça. Nesse tempo não estabeleci qualquer ponte entre as duas obras, mas agora e relendo o "Cerco" parece-me impossível entendê-lo, sem leitura paralela do segundo. Até o nome dos personagens está cheio de reminiscencias: Ramires de apelido, o aristocrata que é Portugal, Raimundo de nome próprio, o plebeu revisor, Portugal não menos. Ambos escrevendo e procurando no passado, o que foram, à força da memória, ou o que poderiam ter sido, à duma simples palavra "não". São dois portugais, frente a frente, cada um do seu tempo: O primeiro levantando-se dum ultimatum e duma bancarrota, o segundo acabado de receber asfixiante abraço europeu.
E se o texto da História seguisse o da história? E se fosse não onde foi sim?
Sem comentários:
Enviar um comentário