Se eu entrasse por um laboratório, se começasse a
discutir teoria da relatividade ou física quântica com os cientistas, se me
mandassem à merda mais às minhas ideias… os arrogantes seriam eles, ou seria eu
que nem para aprender serviria?
Os estudiosos de
humanidades ou ciências sociais somos várias vezes acusados de arrogantes
sempre que saímos do meio académico e nos lançamos a públicos debates. Ainda
hoje um bom amigo me atirou à cara, em acalorada discussão numa rede
social sobre o Brasil desta era bolsonárica.
É verdade e conhecemos
vários casos. Uma inteligência brilhante como era a de Vasco Graça Moura tocava
as raias do indecoroso quando tinha de baixar à rua, o reputado académico
Augusto Santos Silva chega ao limite do insuportável nos debates públicos, de Boaventura
Sousa Santos, um dos sociólogos mais reconhecidos internacionalmente, tão-pouco
se pode dizer que seja um querido, todos nos lembramos com saudade da irascibilidade
de um dos maiores escritores de sempre que foi (é) José Saramago… os exemplos poder-se-iam
suceder.
Quando o meu amigo me
acusou de “arrogância livresca” deixou-me a pensar no assunto. Reconheço-a,
no sentido positivo de “livresco” e no negativo de “arrogante”, quando saio do meio intelectual donde venho, exceto tendo uma audiência não especialista mas praticamente
passiva.
O penúltimo parágrafo
surgiu daí, deu-me o conforto da boa companhia e fez-me reflectir sobre o
assunto. Entro de frente num debate sobre História, sobretudo História da culturaa incluindo a literatura e a Filosofia, na Antropologia também não recuo
e estudo falando como aprendiz de neurociência, principalmente no impacto dos seus avanços
nestas referidas áreas. Direito também aceitaria debater com um advogado mas
apenas ao nível dos princípios, jamais da técnica, da legislação ou do processo… e fico-me por aí.
Então dei comigo a
pensar: “Discutirias Física com um físico? Química com um químico? Matemática com
um matemático?” Não e posso supor os seus desesperos se a tal me atrevesse. Nem
eu o faço nem ninguém que os não seja costuma fazê-lo, e então, físicos,
químicos ou matemáticos têm a felicidade de que nenhum não-físico, não-químico, não-matemático se ponha a debater e a pôr em causa as suas conclusões.
Tenho inveja e é uma
sorte que nós, os das Humanidades, os das Ciências Sociais, não temos: Não há
quem não se sinta historiador, filósofo antropólogo, sociólogo ou psicólogo e não venha
discutir História, Filosofia, Antropologia Sociologia ou Psicologia connosco, geralmente sem saber que o está a fazer.
O melhor seria resistir e
não sair a terreiro. Mas não estaríamos numa recusa da divulgação científica? Não seria
arrogância maior?
Se eu entrasse por um
laboratório, se começasse a discutir teoria da relatividade ou física quântica
com os cientistas, se me mandassem à merda mais às minhas ideias… os arrogantes
seriam eles, ou seria eu que nem para aprender serviria?
Luís Novais
Nota: Dedicado ao meu
querido amigo Joaquim Barbosa
PS: Solidário com os médicos desde que surgiu o Dr. Google.
PS: Solidário com os médicos desde que surgiu o Dr. Google.
Sem comentários:
Enviar um comentário