Depois dum péssimo resultado eleitoral, o malabarista António quer a esquerda para ser governo e a direita para governar. Conclusão óbvia: tudo não passa duma incontinente vontade de poder, enganando “les uns et les autres”. Tantos são os equívocos que, mais cedo do que tarde, esta casa terá de cair-lhe em cima.
Houve um tempo em que tive expectativa naquilo que poderia fazer um governo de António
Costa apoiado à esquerda. Não vou em fantasmas
e detesto argumentos que recorrem ao medo como condicionante da liberdade para decidir e fazer.
Acredito na iniciativa privada desde que controlada pela Polis, e tenho
apreensão relativamente ao modelo de mega empresas, que as leva a perder donos com rosto passando para essa massa difusa chamada acionistas, que geralmente mais não é do que uma fórmula para não dizer "especuladores". Quando isso
acontece, enfermam do mesmo problema normalmente apontado por aqueles que defendem que o Estado é um mau gestor: “Não são de ninguém”. A diferença está em que o
setor público é, apesar de tudo, muito mais vigiado e tem, normalmente, muito
mais pensamento estratégico do que os gestores dessas grandes corporações, quase
sempre apenas interessados em resultados imediatos, que podem transformar-se
em desastres no médio prazo.
O axioma neoliberal de que o Estado gere pior do que os privados, ou de que
o lucro dos privados é inferior ao desperdício do Estado (em que eu mesmo já
acreditei antes de cair o meu muro de Berlim), está hoje muito longe de provado.
Tudo isto para dizer que me pareceu interessante juntar um Partido Socialista que tem um programa mais ou menos liberal e mais ou menos amarrado aos grandes
interesses, com a visão dum Partido Comunista que acredita genuinamente no Estado e na sua
função, e que programaticamente se afirma defensor das pequenas e médias
empresas.
Quanto a António Costa, nenhum preconceito. Não gostei da forma como
derrubou António José Seguro e tão pouco dum certo Estalinismo revelado no
afastamento da Presidente das mulheres socialistas das listas de deputados; mas
esta última questão é quase pessoal, já que sou amigo da pessoa em causa.
Tenho boa impressão de Jerónimo de Sousa e, quanto ao Bloco, não sei o que
pensar e, por isso, tenho pouco contra como tenho pouco a favor.
Em conclusão: zero preconceitos contra esta aliança, zero preconceitos
contra os seus subscritores e, até, alguma expectativa positiva sobre a solução.
Trata-se, contudo, duma esperança que os driblares de António Costa estão a
deitar por terra. Às declarações de que este foi o acordo possível e que talvez se possa avançar mais, segue-se aquela afirmação de não lhe passar pela cabeça “que este ressabiamento nervoso que a
direita apresenta neste momento não desapareça ao fim de uns meses e que não
passe a ter uma postura responsável". Um discurso claro e que
Centeno torna ainda mais óbvio: “Espero que PSD e CDS aprovem todas as medidas com as
quais concordem”.
Tantos são os equívocos que, mais cedo do que tarde, esta casa terá de
cair-lhe em cima.
Luís Novais
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