Amanhã há manifestação contra a
Troika. É assim mesmo que está convocada por um grupo de cidadãos: “Contra a
Troika, que se lixe a austeridade”.
Apoio esta manifestação e estaria
na de Braga se estivesse em Portugal. Faço-o porque acho que todos temos de
abalar os modelos políticos, económicos e sociais que nos estão a ser impostos.
Digo bem, impostos, que hoje o verdadeiro decisor já não é o povo. Não o faço
porque queira fazer cair este Governo. Sou realista: sei quais são as
alternativas e, apesar de não apoiar as medidas anunciadas, prefiro quem me
diga claramente o que pretende do que quem me leve a cantar e rir para o
abismo. Abismo por abismo, que seja consciente.
Vejo muitos dos que foram responsáveis
pela situação atual a bradarem aos céus contra este Governo. Uns disfarçam
melhor do que outros, mas nenhum consegue esconder uma vontade irreprimível de regressar ao poder, de
repartir os cargos e sinecuras de que agora acusa os outros. Alguns dos que andam a colocar no facebook
recortes do Diário da república com as nomeações deste Governo, deveriam corar
de vergonha antes de o fazer (saliento o "alguns").
Há muita gente a querer cavalgar
a justa indignação popular, é o que é. E para voltar ao poder e fazer pior, é
também o que também é.
Fazer cair este Governo para o
substituir por outro que seja pior e mais irresponsável, não é alento para a
minha adesão ao movimento de dia 15. Substituir Pedro passos Coelho por António
José Seguro, muito menos. Menos ainda contribuir para que uma qualquer brigada
do reumático social democrata reocupe um lugar que nunca aceitou perder.
O que vejo é a oportunidade para
o regresso do Povo à política. O que vejo é uma oportunidade para um efetivo
debate sobre quem somos enquanto país e para onde queremos ir. A par de muita
exaltação impensada, de muitos insultos gratuitos, de algumas ameaças condenáveis,
vejo que as pessoas voltam a ter interesse no destino de Portugal, que voltam a
debater, que voltam a apresentar ideias. É esta revitalização que me faz correr,
é a esta revitalização que adiro.
Temos de assumir que chegamos ao
fim dum ciclo, temos de perceber que a geração de unionistas europeus gastou o
nosso futuro no seu presente. Salvaguardaram-se, blindaram-se e mandaram que os
seguintes, nós, fechássemos a porta, enquanto a sua orgia continuava garantida.
No poder, deixaram de ter um
contrato com os cidadãos e passaram a tê-lo com obscuros interesses económicos.
Não geraram riqueza porque não criaram, enriqueceram porque traficaram. Não foi
por inovarem, não foi por gerarem valor para a sociedade (ou para o mercado, se
preferirem), não foi por serem gestores geniais. Não. Foi apenas tráfico, tudo
foi tráfico e nem é preciso perder tempo com exemplos, todos os conhecemos.
Eu não sou contra as reformas dos
políticos. Eu defendo que os políticos as tenham. Porque o que eu espero dum
político é que me defenda da cobiça dos interesses económicos. Eu quero
políticos que nenhum grupo económico queira empregar quando terminem as suas
funções públicas. E porque quero isso, quero políticos que não corram o risco
de perder uma dignidade mínima de vida material quando saem. Estou disposto a pagar por isso, mas em contrapartida não aceito que se aproveitem das suas funções a pensar gananciosamente
naquilo que vão ganhar a seguir, graças aos tráficos que praticaram, graças aos negócios
que proporcionaram. Essa ganância é a principal responsável pela situação em
que nos encontramos. Sem essa ganância não estaríamos agora todos a pagar o
calculismo de tão poucos.
Portugal precisa duma refundação.
A União Europeia odeia-se a si mesma e despreza-nos. O ciclo europeu chegou ao
fim e temos de pensar uma nova geoestratégia para o nosso país.
Já neste Blogue partilhei muitas
das minhas ideias, não as vou repetir. Mas é por isso e só por isso que estou com a manifestação de dia 15. Não admito a nenhum partido co-responsável por
esta situação que se aproprie do meu grito.
Luís Novais
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Não poderia estar mais de acordo. Gritarei também em minhoto, por ti, se bem o faça em Fare!
ResponderEliminarConcordo com o texto quase integralmente, discordo apenas dos dois últimos parágrafos.
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