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Hoje, mais do que nunca,
estamos todos aqueles que empobrecem acreditando que a prosperidade é função do
valor que se cria, contra esses tais, aqueles para quem o lucro é função da
riqueza que os deixamos destruir.
Num grupo de debate em que participei, discutia-se que o próximo passo nas exigências da Troika seria o despedimento de funcionários públicos. Quando isso acontecer, não faltarão os aplausos dos fundamentalistas do liberalismo, de alguns empresários e até de funcionários do setor privado. Mesmo porque, como é costume, tudo será antecedido por uma ampla campanha noticiosa: quanto ganham os gestores? Quanto se gasta em salários? Quantos carros tem o tal instituto ou o tal hospital? Tudo questionado sem que jamais se fale nas contrapartidas em serviços, mas sempre e sempre denunciando os gastos e apenas os gastos.
Sem aplaudir por decoro, mas esfregando
as mãos de contentamento, estarão ainda aqueles que contratarão os
ex-funcionários públicos, para que façam as mesma tarefas por metade dos
salários, mas com o triplo dos custos para o Estado. Rejubilarão também os que
se preparam para as Parcerias Publico Privado que substituirão os serviços em
causa.
Sinceramente, eu estou farto de
ouvir falar na ineficácia do setor público como justificação de todos os males.
Só para ilustrar com um exemplo, os Estados Unidos são o país do mundo onde o
gasto percapita na saúde é maior e têm indicadores piores do que Portugal. Por
lá, a saúde sempre foi um negócio exclusivamente privado, por cá tudo se
prepara para que também seja.
Já agora, como não comparar também
as Universidades Públicas às privadas, algumas das quais até diplomas de favor
vendem?
Os problemas que atravessamos nada têm a ver com os serviços que o Estado assegura (o que, claro, implica
funcionários), mas com a completa desregulação da finança internacional que nos
tem levado de bolha em bolha até à explosão final. Um turbilhão em que a bolha
seguinte serve para compensar as perdas da anterior e, no final, o
cidadão/consumidor ou pequeno investidor é sempre quem suporta os custos.
Nesta sucessão de consecutivos
empolamentos de valor, o ataque seguinte é sempre praticado sobre um tipo de produto
mais essencial do que o anterior.
Eles querem distração? Espetemos-lhes
com uma bolha tecnológica. Rebenta a tecnológica e eles têm de abdicar da
distração, mas de casa não que de telha todos precisam: pum, bolha imobiliária
e os preços da habitação a disparar. Ai Jesus que se nos rebentou a
imobiliária. E agora? De que não podem eles abdicar mesmo? De comer, claro:
catrapum, especulação no mercado alimentar e os preços dos alimentos a subir, a
subir.
Esta última é a bolha em que estamos
a viver. Que morra gente de fome pelas ordens que são dadas a partir de
luxuosos gabinetes, isso não importa. Especular-especular, isso sim, que pode
não haver casa mas comer todos têm de comer.
De mãos dadas com este movimento,
está a corrupção, que o dinheiro sobra sempre para quem ajuda a tornar
possíveis lucros tamanhos. Marcha em frente que no fim alguém há-de pagar… e
alguém está a pagar, como bem se tem visto.
É este ciclo infernal que temos
de interromper. Hoje, mais do que nunca, não deveríamos estar portugueses
contra alemães, alemães contra americanos, americanos contra chineses. Hoje,
mais do que nunca, estamos todos aqueles que empobrecem acreditando que a
prosperidade é função do valor que se cria, contra esses tais, aqueles para
quem o lucro é função da riqueza que os deixamos destruir.
Uma última questão. Quando finalmente
rebentar mais esta bolha, a alimentar, qual será a que se segue? Há dias fui
abordado por uma promotora de talhões num cemitério… temo que a seguir só reste
mesmo este setor, que comer até podemos não comer, mas morrer lá teremos todos
de morrer…
* Foto: Everystockphoto
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