O que está em causa é a Democracia
e, por falar em Democracia, espero que os portugueses não sejam menos do que os
britânicos. Fico à espera dum referendo onde possa ter o direito de também
dizer Não.
Hoje, um povo livre votou sem medo pela saída duma organização que não é
democrática. Esta vitória da Democracia sobre a oligarquia que tem nas mãos uma equipa de burocratas seria,
por si, motivo suficiente para festejarmos.
Um dos exemplos que os britânicos acabam de dar, foi o de que se pode votar
em liberdade e que o medo é o principal inimigo da Democracia. Durante esta
campanha foi usada toda a força de falsos argumentos destinados a amedrontar os
eleitores: Que seria o descalabro económico, que haveria desemprego, que as
empresas teriam de sair do país… houve até multinacionais que publicaram anúncios
nos jornais apelando ao remain.
A tudo isto, o povo respondeu claramente e sem se deixar condicionar. Trata-se da Democracia em vigor mais antiga do mundo, e hoje ficou bem
demonstrado porquê.
As razões deste resultado podem ser vistas por duas vias: Institucional, uma, social, a outra.
Institucionalmente, os britânicos disseram claramente que não mais
permitirão que a sua soberania seja transferida para as mãos de burocratas não
eleitos que impõe medidas subtraídas ao sufrágio popular. Façam-se as campanhas
que se façam, a União Europeia tal qual está é um entrave à democracia na Europa.
A inevitabilidade de passarmos para a legislação nacional as diretivas
comunitárias é um dos argumentos mais usados para nos condicionar a opções que não votamos.
Socialmente, não há como não considerar que a globalização ultra-liberal
levou à maior concentração de riqueza da contemporaneidade, destruiu a
viabilidade da pequena e média iniciativa e está a aniquilar duzentos anos
de conquistas sociais que transformaram os proletários da Revolução Industrial
na classe média com formação, direitos e garantias que ainda vamos tendo.
Por falta de democraticidade a União Europeia foi presa fácil dessa visão
económica e social que quer impor ao mundo uma globalização desregulada e sem
direitos sociais. Hoje, 40% das vendas mundiais são controladas por apenas 147 oligopólios
(Pode ler: “Setor
Público e Oligopólio na Economia Global”). Em 2015 o 1% de mais ricos do
mundo tinha tanto como os restantes 99% e, até entre estes, assistimos
a uma concentração crescente: Um reduzido número de 65 pessoas tem tanto como a
metade mais pobre do mundo; em 2010 eram 388 (mais informação aqui).
Acredito que a votação britânica foi também uma resposta desta classe média
em erosão contra uma organização superestrutural que tem imposto uma
série de medidas que vão ao encontro desta visão financista e desregulada da
economia, a mesma que levou a tamanha concentração de recursos e que nos conduziu à crise
mundial que já vivemos e levará à que se avizinha.
Em Portugal temos um bom exemplo de como o desaparecimento da classe média
e o empobrecimento generalizado da população arrasta consigo a agonia dum país
e, num prazo que já foi maior, pode levar ao seu desaparecimento efetivo.
Por motivos que se prendem com as raízes de Portugal e que já aqui
expliquei, não defendo a nossa permanência. Contudo, no caso da Europa
central, parece-me que a União Europeia, uma verdadeira União, é útil e pode
resolver uma série de problemas que a História conhece. Independentemente de
continuar a defender a saída de Portugal, espero que a decisão corajosa que
tomaram os eleitores do Reino Unido ensine aos burocratas que têm de ceder o
poder ao povo.
O que está em causa é a Democracia e, por falar em Democracia, espero que
os portugueses não sejam menos do que os britânicos. Fico à espera dum
referendo onde possa ter o direito de também dizer Não.
Luís Novais
Foto: Moritz320
Nem mais
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